POLÊMICA

Professora de escola católica é demitida após contextualizar uso da linguagem neutra para alunos

A instituição de ensino não revelou a identidade da educadora, mas informou aos pais dos estudantes sobre a situação

A professora contextualizou o uso do pronome neutro.Créditos: /Reprodução de Vídeo
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Um aluno do Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição, localizado na cidade de Videira, em Santa Catarina, gravou sua professora de português ensinando sobre linguagem neutra na sala de aula e, após o vídeo ser exposto, a mulher foi demitida.

A professora era responsável pelas aulas do 6º e do 7º ano do ensino fundamental e estava explicando a utilização do termo “todes” aos estudantes, normalmente aplicado às pessoas queers, não-binárias e que se identificam com outras identidades de gênero, para além de “homem” e “mulher”.

A educadora contextualiza o motivo pelo qual se usa a linguagem neutra para os alunos no vídeo e expressa que algumas pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ não se sentem representadas pelo termo “todos”

"Se você fosse uma pessoa não-binária, binárie, binário... uma pessoa que é homossexual e te ofendesse chamar de todos, porque todos não abrange o teu tipo de gênero. Aí você teria que engolir, porque você seria minoria. Estou tentando entender da outra ótica, porque eu também sou uma pessoa heterossexual. Eu tenho que tentar entender da ótica de uma pessoa que não é heterossexual. Se eu não sou uma pessoa que não me encaixo nem no sexo masculino, nem no sexo feminino, que é o neutro no contexto brasileiro...", afirmou a professora

O portal O Globo entrou em contato com a instituição de ensino católica, que não revelou a identidade da professora e nem as razões pelas quais os responsáveis decidiram demiti-la. Além disso, as famílias dos alunos foram informadas sobre a situação.

Empregabilidade da linguagem neutra e inclusão de identidades de gênero

O uso correto do pronome ao se referir a alguém começou a ser debatido entre as pautas da comunidade LGBTQIAPN+ por conta da invalidação e da discriminação de pessoas transexuais, não-binárias ou que se identificam como gênero fluído. 

A discussão ganhou força porque a língua portuguesa costuma empregar gênero em todas as palavras, não apenas nos pronomes pessoais. Desde então, uma parcela da sociedade começou a fazer chacota sobre o assunto, principalmente pessoas mais conservadoras

Guilherme Terreri Lima Pereira, formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP) e a pessoa por trás da criação da Drag Queen Rita Von Hunty, que palestra e milita sobre aspectos e movimentos sociais pelo Brasil e ganhou notoriedade no YouTube, explica um pouco sobre a importância da linguagem neutra:

“A linguagem é uma forma de captura. [...] As línguas são, ao mesmo tempo, formadoras e informadoras das realidades. [...] As línguas se alteram, se transformam com as coisas, para acompanhar o caminhar das coisas”, diz Rita no vídeo. 

Além disso, ele se baseia em estudos para dizer que a linguagem não apenas transmite e comunica, como se torna parte de nós e define nossa personalidade, visão e compreensão do mundo. 

“[...] Alterações da linguagem podem propor alterações da realidade. Pensar em uma linguagem neutra é acompanhar o caminhar dos tempos. [...] Nós já abrimos mão de certas palavras que nós conseguimos identificar como historicamente ligadas a processos que a gente não quer que continue”, completa a Drag.

Assista ao vídeo completo na íntegra