Após ser acusado por três mulheres de assédio sexual e o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) aceitar a ação, no início do último mês de agosto, o ator de diretor Marcius Melhem se pronunciou em entrevista e alegou que uma das vítimas era a autora de “brincadeiras sexuais”.
Além das 3 mulheres que conseguiram dar procedência à denúncia, outras 5 tiveram o caso arquivado, incluindo a humorista Dani Calabresa, por prescrição dos fatos. Melhem disse, em entrevista à jornalista Mônica Bergamo, Folha de São Paulo, que não tem medo de ser preso, pois isso seria um “absurdo completo”.
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“Uma fagulha contra mim vira uma manchete gigante, checada ou não. [...] A Veronica [Debom] dizia pra mim: ‘eu devo um sexo oral [...] para quem me tirou da Record e me colocou na Globo’ [se referindo a ele]”, disse Marcius Malhem.
O ator ainda diz que alguns dos casos se tratam de mulheres que teriam sido convencidas por terceiros que foram assediadas e que, embora elas acreditem que tenham sido, não significa que, de fato, houve tal violência.
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Ele ainda menciona que Veronica, uma das vítimas, começou a arquitetar com outras pessoas para que se “revoltassem contra ele” no início de 2020. De acordo com Melhem, se ele tivesse a mesma postura da atriz e fizesse as mesmas brincadeiras que ela fazia com ele, estaria “ferrado”.
Além disso, o ator questiona a jornalista Mônica Bergamo sobre as razões de perguntarem “milhões de coisas” para ele, que teria "provas de que as mulheres são mentirosas”.
“Quantas mentiras eu tenho que provar pra encerrar esse caso?”, pergunta Marcius Melhem.
O humorista vem sendo acusado de adotar uma postura machista ao desmoralizar as acusações das mulheres. No entanto, na entrevista, se emociona ao falar sobre como suas filhas e a ex-esposa, Joana Rosenfeld, precisam lidar com a situação e que a exposição a qual ele e sua família foi submetida é “desumana”.
O ator também comenta sobre uma “falha de comunicação” judicial, uma vez que ele foi notificado pela acusação de assédio sexual, mas não foi informado em qual situação, o que o faz ter que rememorar sua trajetória artística inteira a fim de lembrar se fez “uma brincadeira” que possa ter sido interpretada dessa forma.
Assédio sexual não é “brincadeirinha”
Existem diversas situações sutis que são confundidas com brincadeiras, mesmo se tratando de crimes de assédio sexual. A própria afirmação de que é apenas uma “piada”, quando desrespeita a moral e viola os limites do desconforto, se trata de uma maneira de banalizar a circunstância.
Segundo Vera Martins, educadora e pesquisadora na área de comportamento humano, quando se trata, de fato, de uma brincadeira, o clima no ambiente fica descontraído e todos, em comum acordo, se divertem. Em casos de assédio, é apenas o assediador é quem se entretém.
Devido ao maior debate em torno das questões feministas, é mais fácil de perceber esse tipo de característica nas interações sociais hoje em dia. Mesmo assim, alguns homens acabam assediando sem nem perceber a gravidade de suas ações e a vítima pode ser taxada como “exagerada” ao reclamar.
Por conta disso e do papel social de submissão exercido, as mulheres acabam se sentindo constrangidas ao denunciarem e, muitas vezes, sequer relatam o acontecido. De acordo com pesquisa da Mindsight, 97% das vítimas deixam de denunciar o crime.
O que dizem as mulheres que acusaram Marcius Melhem?
Os assédios teriam acontecido enquanto o comediante era diretor de humor da Globo e trabalhava com as vítimas. Em nota, os advogados de defesa das mulheres disseram que “a campanha de intimidação levantada pelo assediador contra as atrizes e profissionais envolvidos nas apurações não surtiu efeito”, uma vez que o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) reconheceu as atitudes de Marcius Melhem como assédio.
Ana Carolina Portes, uma das atrizes que acusou Melhem, contou que foi assediada sexualmente após o ator tomar banho em seu apartamento. Ele teria a agarrado e insistido para ficar com ela e, depois de resistir a investida, ele a soltou e foi se vestir no quarto.
“Ele saiu de toalha e me... me beijou à força, e... enfim, eu me desvencilhei, e aí super constrangida. Bom, qualquer mulher já passou por isso, assim, de desvencilhar, sabe? Ah, não, não, não... E aí eu: 'Não, não, vamos, quero ir logo, vamos logo', tipo, vamos embora, né? Não vai rolar nada”, disse ela ao portal UOL.
Portes tentou esquecer o acontecido por se sentir envergonhada e se culpar pela situação. No entanto, falou pela primeira vez sobre o assédio em 2020.
“Eu fico sozinha e choro bastante, fiquei mal. Aí entra a coisa de a gente se culpar, né? Me culpei muito. Por que deixei isso acontecer? Fiquei com muita vergonha de mim mesma”, relatou.