Um jovem de 21 anos foi preso nesta sexta-feira (4) no Guarujá, litoral de São Paulo, acusado de apologia ao crime e associação criminosa por gravar uma música de mau gosto que zomba da morte do PM Patrick Reis, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). A morte do policial, na última semana, foi o mote para início da Operação Escudo que já deixou pelo menos 14 mortos e recebeu o apelido de Chacina do Guarujá.
Na letra, Adelso dos Santos de Almeida Júnior, o cantor, narra o cotidiano de um criminoso ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) residente no Guarujá. “Se é apologia, eu vou mandar (…) troco tiro com a Baep, e é sem medo de morrer (…) eu sou do crime organizado, pode descer a Rota, da capital de São Paulo”, diz um trecho da letra.
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Em outra parte da letra, o cantor narra o crime cometido contra o policial: “Os ‘menor’ cheio de ódio, com a 9 na cintura, eu tava no horário, e do nada a viatura (…) vou contar pra vocês, nós mandamos [bala] de montão, um ficou ferrado e o que deitou é o Reis”.
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Adelso foi procurado na última quinta (3), em sua residência, por conta de uma operação de busca e apreensão, mas não foi encontrado. Ele foi preso nesta sexta quando estava em um mercado da região. O jovem é acusado de associação ao tráfico, apologia ao crime e teve o celular em que a música foi gravada apreendido pelo Deic (Delegacia Especializada em Investigações Criminais).
Seu advogado, Silvano José de Almeida, declarou à TV Tribuna, afiliada da Globo na Baixada Santista, que seu cliente não faz parte de facções criminosas e que estava embriagado quando gravou a música.
“Ele não faz parte de organização criminosa e não estava presente no dia dos fatos que vitimaram lamentavelmente o policial militar. Está arrependido por ter feito a música”, disse.
Músicas sobre "polícia e bandido"
O dia a dia de policiais e grupos criminosos frequentemente povoa o ambiente artístico. Nos EUA por exemplo, o cantor Johnny Cash gravou uma série de canções falando sobre a vida de criminosos oriundos da classe operária daquele país.
No Brasil não é diferente, e massacres protagonizados por operações policiais ou por grupos ilegais de extermínio costumam despertar a atenção da opinião pública como um todo por se tratarem de episódios bárbaros. Com os artistas não é diferente.
Grupos de rap nacional como os Racionais Mcs e o Facção Central já foram acusados de forma leviana de participarem de organizações criminosas, por narrarem o mundo delas em suas músicas. Depois ficou provado que não eram bandidos, mas artistas. Bezerra da Silva, um já falecido e famoso intérprete de sambas populares, cansou de narrar histórias de assaltantes, traficantes, policiais e contraventores, sem nunca ter se juntado a qualquer um deles.
Se o jovem é ou não é membro de uma organização criminosa, apenas uma investigação séria poderá dar a resposta. A música em si, apesar do mau gosto, não diz muita coisa nesse sentido.