Arqueólogos estão em busca de vestígios da ditadura militar no DOI-Codi, antigo centro clandestino de tortura, na Zona Sul de São Paulo. No dia 2 de agosto deste ano, pesquisadores das universidades da Unicamp, da Unifesp e da UFMG começaram a conduzir as escavações no local.
A pesquisa será concluída na tarde desta segunda-feira (14) e tem como finalidade esclarecer as violações cometidas durante a ditadura militar no Brasil (1964 - 1985). De acordo com André Zarankin, entre 350 e 400 objetos foram encontrados, incluindo um frasco de tinta para caneta e carimbo no espaço onde os sequestrados eram registrados, assim como vestígios indicativos de sangue.
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“Frasco de tinta para carimbos, elementos que por si só não são muito, mas que junto com as histórias dos prisioneiros ganham outra representação”, afirmou o pesquisador. As inscrições na parede do banheiro são consideradas pelos pesquisadores como um grande fato e um símbolo da resistência das pessoas que passaram por ali.
Como foi conduzido o trabalho?
Três frentes de atuação foram realizadas, uma focada na escavação, uma na investigação forense e a outra na Arqueologia Pública. A última foi responsável por organizar visitas guiadas (mediante agendamento), mesas de debates e oficinas para professores da rede pública de ensino selecionados previamente.
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Mais de 800 pessoas em visitas guiadas foram recebidas pela equipe de arqueologia pública, que planejou oficinas para cinco escolas públicas. Duas oficinas de formação foram feitas para professores do ensino básico e uma oficina de arqueologia forense para estudantes de graduação em Arqueologia e História.
A doutora em história, Fernanda Lima, destaca que a investigação suscita o debate para o que ocorreu durante a ditadura militar naquele local. "A materialidade do edifício explica como a repressão aconteceu naquele espaço. Estudando melhor podemos descobrir tudo o que foi modificado no edifício ou então acrescentado nele para torná-lo um lugar mais repressivo".
Fernanda é membro do Grupo de Trabalho (GT) DOI-Codi, composto por arqueólogos e historiadores de 10 instituições universitárias, incluindo a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O GT realizou suas primeiras ações no local em 2022. Usando um georradar, a equipe de Arqueologia Forense conseguiu mapear os edifícios para identificar portas e janelas escondidas atrás de paredes, por exemplo. Os dados coletados naquela ocasião seguem sendo analisados.
Para estudar o local, os pesquisadores precisaram solicitar autorização dos órgãos de preservação estadual e municipal (Condephaat e Conpresp), responsáveis por proteger o DOI-Codi. Além de solicitar permissão ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). As autorizações foram concedidas em dezembro de 2022 e maio deste ano.
Quando surgiu o DOI-Codi de SP?
O DOI-Codi, ou Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, foi um órgão secreto estabelecido em 1969 e incorporado ao Exército no ano seguinte, quando recebeu este nome e foi oficialmente reconhecido.
Localizado na Vila Mariana, na Zona Sul de São Paulo, ele foi um dos principais instrumentos de repressão do regime, assassinato e desaparecimento do Brasil. Especialistas acreditam que mais de 7 mil opositores do regime tenham sido submetidos a tortura nas instalações do órgão até o início da década de 1980.
*Com informações de g1