Pesquisa do Datafolha divulgada neste sábado (1) revela que o Brasil é conservador e contraditório, com um forte apoio da população a algumas questões consideradas progressistas. Os temas que mais polarizam a população são o acesso a armas de fogo e o direito da mulher de decidir sobre o aborto. Essas duas questões despertam posições divergentes e intensas entre os brasileiros.
O levantamento publicado pela Folha de S.Paulo revelou que 44% concordam que a interrupção da gravidez seja uma prerrogativa da mulher, enquanto 52% discordam. No que diz respeito ao direito dos cidadãos de possuir armas legalizadas, 50% defendem essa possibilidade, enquanto 48% são contra.
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O estudo também abordou questões relacionadas à homossexualidade, racismo, religião e a presença feminina em cargos de liderança. Os resultados mostram uma diversidade de opiniões entre os entrevistados.
Há uma mistura complexa, em que os brasileiros, em média, mostram apoio à aceitação da homossexualidade, mas têm uma postura mais conservadora em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
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Além disso, há uma percepção de que o racismo está presente em várias esferas da sociedade, porém, ao mesmo tempo, existe uma concordância de que os negros enfrentam maior dificuldade de acesso ao mercado de trabalho. Essas contradições revelam a complexidade das opiniões e atitudes dos brasileiros em relação a essas questões.
Aborto
A soma dos que concordam totalmente (25%) e que concordam em parte (20%) com a afirmação de que o aborto deve ser uma prerrogativa da mulher não chega a 45% por conta dos arredondamentos.
No Brasil, o aborto é autorizado nos casos em que a gravidez é decorrente de estupro, quando há risco à vida da gestante ou quando há um diagnóstico de anencefalia do feto. O procedimento deve ser oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Armas
Segundo a pesquisa, 50% concordam totalmente ou em parte que o cidadão deve poder ter arma legalizada para se defender. Em 2022, uma pesquisa do Datafolha apontou que 26% da população acha que a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger.
Sexualidade
O levantamento mostrou que a maioria da população (75%) entende que a homossexualidade deve ser aceita na sociedade. Ao mesmo tempo, porém, uma parcela semelhante (72%) afirma que a família é formada por um homem e uma mulher.
A homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade?
- Concorda totalmente: 55%
- Concorda em parte: 20%
- Nem concorda, nem discorda: 2%
- Discorda em parte: 8%
- Discorda totalmente: 13%
- Não sabem: 3%
A família deve ser formada por um homem e uma mulher?
- Concorda totalmente: 59%
- Concorda em parte: 13%
- Nem concorda, nem discorda: 1%
- Discorda em parte: 7%
- Discorda totalmente: 20%
- Não sabem: 1%
Mulheres, meio ambiente, religião, saúde e racismo
A pergunta sobre a necessidade de aumentar a presença de mulheres em cargos de liderança foi a que teve a maior concordância na pesquisa, que também perguntou sobre meio ambiente, religião, saúde e racismo. Confira os números:
- 94% concordam que a presença feminina em cargos de liderança deve aumentar, e 5% discordam;
- 90% admitem que o aquecimento global é real;
- 84% acreditam que a igreja deve fazer parte do projeto de vida das pessoas, e 14% discordam;
- 78% afirmam que a vacinação em si e nos filhos é uma decisão pessoal, e 21% discordam;
- 78% afirmam que negros têm menos acesso a empregos do que brancos;
- 75% concordam com a frase "hoje em dia, as pessoas veem racismo em tudo";
- 72% acreditam que leis ambientais devem ser mais flexíveis para promover avanço do agronegócio, e 23% são contrários.
'Ameaça comunista'
A pesquisa mostra que 52% dos entrevistados concordam com a afirmação sobre o risco de o Brasil adotar um regime comunista, algo que não encontra base na realidade. Desses, 33% concordam totalmente, e 19%, parcialmente. No geral, 42% rejeitam a noção (30% totalmente, 12% em parte), e 6% ou não sabem, ou não quiseram responder.
Legado da Ditadura Militar
Para 47% das pessoas ouvidas pelo instituto, não houve benefícios ao país com o regime militar que durou 21 anos, e 35% desses acreditam nisso de forma convicta (13%, nem tanto). Já 36% concordam que a ditadura trouxe coisas boas ao país, 15% desses totalmente (21%, parcialmente).
A pesquisa foi feita pelo Datafolha, que entrevistou 2.010 pessoas em 112 cidades brasileiras entre 12 e 14 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.