A manhã desta quarta-feira (21) marcou o encerramento do julgamento que atravessou a madrugada e durava mais de 22 horas no 3º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, em que o traficante Fabiano Atanásio da Silva, o FB, foi condenado a 225 anos de prisão por conta da derrubada de um helicóptero da PM no Morro dos Macacos, na Zona Norte do Rio, em 2009. À época, as imagens da queda da aeronave tomaram conta não apenas da imprensa nacional, mas repercutiram nos jornais de todo o planeta.
FB não é o autor do disparo que derrubou o helicóptero, mas foi apontado como o líder da invasão do Morro dos Macacos, evento que motivou a ação policial e consequentemente a derrubada da aeronave. Na sentença, lida às 7h desta manhã, a juíza Tula Mello condenou FB pelo homicídio dos três PMs que estavam a bordo do helicóptero; seis tentativas de homicídio, três de sobreviventes do helicóptero e 3 de agentes que estavam em terra; e associação para o tráfico.
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“Foi uma ação nefasta que se assemelha a um ato terrorista. O abate, simbolicamente, representa o poderio bélico da facção criminosa e atinge diretamente a população em geral. As imagens, por si só, causam danos inigualáveis. A cena da vítima saindo da aeronave como uma bola de fogo causa um impacto sem precedentes”, escreveu a juíza, em alusão a uma nova imagem acontecimento que foi assistida durante o julgamento.
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O condenado participou do julgamento por vídeochamada. Ele está preso desde 2012 na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná. FB reconhece que tenha sido parte do tráfico, mas alega que jamais esteve em papel de liderança.
“Eu fazia parte do tráfico da Vila Cruzeiro, mas nunca fui líder de nada. Isso tudo veio da polícia mau-caráter e corrupta. Nunca dei dinheiro para não botarem processo em cima de mim. Hoje eu só respondo a tantos crimes porque nunca dei dinheiro para eles. Nunca dei arrego”, afirmou no depoimento que começou às 23h da última terça (20).
Ele deu os nomes de policiais que o teriam extorquido. Seu advogado, Cláudio Dalledone promete recorrer da decisão que, na sua avaliação, deriva de um processo “defeituoso” e baseado em “ouvir dizer”.
O que aconteceu
Em 17 de outubro de 2009, uma operação da PM carioca entrou em favela localizada no bairro de Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. Naquela época, a região convivia com constantes disputas territoriais entre facções de narcotraficantes e as operações policiais que buscavam combatê-las. No caso do Morro dos Macacos, na madrugada anterior o Comando Vermelho (CV) havia empreendido uma operação para expulsar os Amigos dos Amigos (ADA) da comunidade e assumir os negócios ali.
Foi logo após essa operação que os homens do CV derrubaram o helicóptero da Polícia Militar, deixando os três agentes mortos. Mas apesar das condenações, nunca ficou comprovada a identidade do homem que efetuou o disparo responsável pelo abate. O delegado Carlos Henrique Pereira, da delegacia de Engenho Novo que esteve responsável pelas investigações à época, confirmou a informação em juízo. A participação de FB e de outros condenados pelo episódio foi descoberta através do trabalho dos órgãos de inteligência.
Além de FB, outros três traficantes foram condenados. Em 2019, Luiz Carlos Santino da Rocha, conhecido como Playboy, foi condenado a 225 anos pelos mesmos crimes aos quais FB foi sentenciado. Em setembro de 2022, Magno Fernando Soeiro Tatagiba, o Magno da Mangueira, e Leandro Domingos Berçot, o Lacoste, foram condenados a 193 anos de prisão. Michel Carmo de Carvalho, o quinto suspeito, morreu antes de ser julgado.
De acordo com a promotora Carmen Elisa, FB é acusado de planejar a invasão do Morro dos Macacos e afirma que sua condenação é uma resposta da sociedade. “Ele fez a organização do ataque, e previa a morte de quem estivesse no caminho deles, traficante rival ou policial. Naquele momento do abate à aeronave não havia confronto entre quadrilhas. Eles escolheram matar os policiais. Espero que a sentença alivie a dor das pessoas que sofreram com esse crime”.