VIOLÊNCIA FASCISTA

Bolsonarista mostra arma e ameaça religiosa por “maldição no QG do Exército”

Ao todo foram duas ameaças de morte em menos de 48 horas contra a pastora e influencer Irmã Mônica; “Aqui é Bolsonaro, você vai morrer agora”

Irmã Mônica posa com boletim de ocorrência em delegacia de Cidade Oriental, no entorno do DF.Créditos: Bruno Henrique Bispo do Nascimento
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A Irmã Mônica (47) é uma religiosa cristã, membro da Congregação Cristã do Brasil (CCB), que tornou-se uma influenciadora digital durante as últimas eleições por destacar-se como uma líder religiosa crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um momento em que o bolsonarismo tomava de assalto as diversas denominações evangélicas e pentecostais do país. Desde a última quinta-feira (15) ela vem recebendo ameaças de morte por parte de um vizinho que chegou a lhe mostrar duas armas diferentes como forma de intimidação.

No fim da tarde desta sexta-feira (16), ela e seu filho Bruno Henrique Bispo do Nascimento (30) foram à delegacia de Polícia Civil de Cidade Oriental, no entorno do Distrito Federal, onde vivem, para registrar um boletim de ocorrência. A reportagem da Revista Fórum conversou com Bruno por telefone, ainda na delegacia, que nos explicou todo o ocorrido.

“Um dos ataques foi ontem à noite. Estávamos eu, meu esposo, minha mãe e mais dois amigos LGBTs. A gente chegou de um jantar que festejava o lançamento de um clipe da irmã Mônica. O vizinho da frente é bolsonarista, e a gente sabia disso quando alugou a casa dentro do condomínio há dois meses. Ontem, quando a gente desceu do carro, esse cara veio e falou assim para ela: ‘Você é a famosa, é? A celebridade daqui do condomínio’. E ela respondeu: ‘Não sou, não. Eu sou só conhecida, famoso é Deus’”.

Segundo o relato de Bruno, que consta no boletim de ocorrência compartilhado com a reportagem, o vizinho em seguida retrucou: “Então é você. Minha mãe me falou que foi você quem jogou maldição no QG do Exército”.

O vizinho, visivelmente incomodado com os novos rumos do país e as iminentes derrotas do ex-presidente no Tribunal Superior Eleitoral e na Justiça comum, presumiu que Irmã Mônica e os seus festejariam uma queda possível de Bolsonaro, mostrou a arma, e emendou a ameaça: “Não fiquem comemorando não, porque para comemoração tem bala!”

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Bruno conta que a religiosa saiu correndo dali, com medo de que o homem realmente atirasse nela. Depois de entrar em casa, Irmã Mônica olhou pela janela e viu o vizinho impaciente, entrando e saindo de sua residência.

O segundo episódio ocorreu nesta sexta-feira (16). A Irmã Mônica saiu de casa para levar um pouco de comida ao seu esposo, no local onde trabalha. No meio do caminho, ainda na rua, um carro se aproximou. Era uma Fiorino branca. Dois homens que não soube identificar ocupavam os bancos de piloto e carona. Ambos usavam uniforme de trabalho.

Ela não sabe dizer se a dupla a seguiu pelas ruas ou se era uma coincidência terem se cruzado. A Fiorino encostou e um dos dois a chamou, mostrando outra arma: “Aqui é Bolsonaro, você vai morrer agora”, exclamou.

A Irmã Mônica então correu e se abrigou na loja Atacadão do Piso, de Valparaíso (GO). De acordo com o boletim de ocorrência, a loja filmou as ameaças e a fuga do suspeito. “Precisamos que essas coisas sejam divulgadas. A vida da irmã Mônica como cristã e ativista está correndo risco”, concluiu Bruno.

Quem é a Irmã Mônica

Irmã Mônica nunca foi petista, filiada ao PT e nem compareceu a qualquer manifestação política ao longo de sua vida. Segundo seu filho Bruno, é uma mulher dedicada à religiosidade e, a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo, tornou-se uma natural defensora dos direitos humanos, das minorias e de todo aquele que é massacrado no ‘mundo dos homens’.

“Quando chegou o primeiro turno das eleições, ela me disse: ‘Bruno, Deus me revelou que o Lula vai ganhar as eleições. Você tem alguma coisa do Lula em casa?’. Eu tinha uma toalha, peguei e dei a ela, que começou a orar. Achei bonitinho e resolvi filmar para postar nas minhas redes sociais. Em menos de uma hora bateu um milhão de visualizações no Tik Tok”, relatou o filho.

Ele diz que em seguida criou as redes da mãe e então começaram a fazer as postagens. Ao passo que muita gente se identificava com ela, também engajavam os internautas bolsonaristas que a acusavam de ser a favor do aborto e das esquerdas. Mas apesar disso, Bruno afirma que ainda não havia tido qualquer episódio de violência semelhante ao vivido nos últimos dias.

“Bolsonaro já caiu em nome de Jesus”, disse a Irmã Mônica em um dos vídeos que mais viralizou. No dia dessa gravação ela estava em Brasília para contar ao ex-presidente que ele seria derrotado. Hoje ela tem cerca de 500 mil seguidores somando todas as suas redes sociais.

Irmã Mônica já fez orações contra a violência contra os povos indígenas e a comunidade LGBTQIAP+, já fez previsões sobre aliados de Jair Bolsonaro que seriam presos, e durante as eleições tentou desmistificar ideias de que Lula seria a favor do aborto e fecharia templos. Mas o que mais revoltou os bolsonaristas foram as previsões de enchente, e na sequência da queda de um raio, sobre o acampamento armado diante do Quartel-General do Exército em Brasília.

“Antes do acampamento ser alagado, ela gravou um vídeo e falou assim: ‘eu estou orando e Deus vai mandar uma chuva tão grande naquele acampamento que não vai ficar uma barraca em pé. Vai ter barraca pra todo lado e vai voar comida pra tudo que é canto’. Quando foi a tarde isso aconteceu. Aí ela ficou famosa como a profeta que previu a queda de Bolsonaro e jogou chuva no acampamento. Então fizemos um segundo que ela dizia algo assim: ‘Se vocês não saírem Deus vai mandar um raio’. E o raio caiu no acampamento”.