MUNDO VIRTUAL SEM LEI

"Simulador da Escravidão": Ministério Público cobra Google e abre investigação

No game, jogador é “proprietário de escravos”, estimulado a obter “lucro” e contratar guardas para evitar rebeliões

No Google Play: mais de mil usuários haviam baixado o app e muitos comentários racistas foram registrados.Créditos: imagem de redes sociais
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Depois de causar indignação e revelar mais um crime propagado sem restrições por uma big tech, o jogo eletrônico Simulador de Escravidão entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF-RS) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). 

O MPF-RS instaurou inquérito para investigar o app, que até esta quarta-feira (24), estava disponível na Google Play Store, até ser retirado do ar. "Diante disso [comentários racistas], foi expedido ofício para que a empresa Google preste informações específicas sobre o jogo. Trata-se de jogo em que o usuário faz o papel de proprietário de escravos e pode escolher entre a possibilidade de fazer lucro e impedir fugas e rebeliões ou a de lutar pela liberdade e chegar à abolição", diz a nota. 

Segundo a desenvolvedora do jogo, a MagnusGames, mais de mil usuários baixaram o app e muitos comentários racistas foram registrados na página do game na Play Store.

JOGO RACISTA

No jogo, que ficou disponível por mais de um mês na plataforma, o usuário é um “proprietário de escravos” e o jogador é estimulado a obter “lucro” e contratar guardas para evitar rebeliões. Há até uma opção para que o usuário explore sexualmente as pessoas colocadas sob seu poder dentro do mundo virtual.

Desrespeitando a história do Brasil e, principalmente, a população preta brasileira, o "game" mostra imagens de pessoas acorrentadas, inclusive um homem negro, que aparece coberto de grilhões em uma estética semelhante a um desenho animado. Na capa, uma gravura histórica retrata um homem branco, em roupas elegantes, ao lado de um homem negro escravizado seminu.

A produtora do game informa que o “jogo foi criado para fins de entretenimento” e que condena a escravidão no mundo real.

A denúncia foi feita no Plenário da Câmara dos Deputados pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do PL das Fake News, que ressaltou a necessidade da criação de regras para o setor. " O PL 2630 é urgente para dar passos na necessária regulação das plataformas digitais": 

MP-SP

Em São Paulo, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi), do Ministério Público estadual, instaurou uma Notícia de Fato sobre o aplicativo. No documento, o MP aponta a existência de mais de mil downloads já feitos em um curto intervalo de tempo assim como discurso de ódio nos comentários da plataforma do Google.

“A empresa deverá informar, em três dias, data, horário e plataforma(s) de disponibilização do game, enviando cópia integral de todos os documentos e do procedimento interno administrativo de solicitação de aprovação feito pelo desenvolvedor”, assinala o MP-SP.

O Ministério Público de São Paulo quer ainda ter acesso ao e-mail que foi cadastrado pelo responsável do game e às informações sobre a política de autorização para publicação dos aplicativos disponíveis no Google Play.

Para evitar novos episódios como o deste jogo, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) entrou em contato com o Google para elaborar, de forma conjunta, um filtro que não permita a disseminação de discursos de ódio, intolerância e racismo. 

O que diz o Google?

Em nota, a empresa disse que removeu o jogo de sua loja de aplicativos e que toma medidas para coibir a incitação ao ódio e violência. “Temos um conjunto robusto de políticas que visam manter os usuários seguros e que devem ser seguidas por todos os desenvolvedores. Não permitimos apps que promovam violência ou incitem ódio contra indivíduos ou grupos com base em raça ou origem étnica, ou que retratem ou promovam violência gratuita ou outras atividades perigosas”.