INTIMIDAÇÃO

"Quer morrer?": Além de jornalista demitido, denunciante do trabalho escravo em Joinville é ameaçada de morte

Jane Becker é presidente do sindicato que denunciou trabalho análogo à escravidão em obra da prefeitura da cidade

Jane Becker foi ameaçada de morte após denunciar trabalho análogo à escravidão em obra da prefeitura de Joinville.Créditos: Sinsej
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A denúncia de trabalho análogo à escravidão em uma obra da prefeitura de Joinville (SC) vem sendo marcada por intimidação e ameaça aos denunciantes.

Nesta quinta-feira (2), Jane Becker, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Joinville e Região (Sinsej), entidade que na terça-feira (28) denunciou ao Ministério Público do Trabalho (MPT) a situação degradante a que trabalhadores eram submetidos em um canil da gestão municipal, foi ameaçada de morte

Antes disso, na própria terça-feira, o jornalista Leandro Schmitz, responsável pela primeira reportagem sobre a denúncia, foi demitido do jornal Folha Metropolitana minutos após publicar a matéria. 

Segundo o Sinsej, Jane havia acabado de sair de sua residência, por volta das 10h desta quinta-feira, e estava a caminho do sindicato quando parou em um cruzamento e foi abordada por um motoqueiro, que perguntou: "Você quer morrer?". Inicialmente, a dirigente sindical pensou se tratar de algum problema relacionado ao trânsito, mas na sequência, antes de fugir, o homem disparou: "Para de se meter onde não deve"

Jane, após o ocorrido, registrou um boletim de ocorrência em uma delegacia da Polícia Civil de Joinville. "A gente credita tudo isso à denúncia que nós fizemos, com certeza. Nunca tinha sofrido nenhuma ameaça. Não tenho nenhum desafeto. É a primeira vez que passo por isso", disse a dirigente sindical. 

Jornalista demitido

O jornalista Leandro Schmitz viu a sua vida virar do avesso logo após publicar reportagem na Folha Metropolitana no dia 28 de fevereiro, com denúncia sobre trabalho análogo à escravidão em uma unidade púbica da prefeitura de Joinville.

Cinco minutos após a publicação, Leandro foi demitido. Diante da grande repercussão negativa, a Folha Metropolitana afirmou em nota que a demissão já estava programada e se deu pelo fato do jornal estar “passando por reestruturações de equipe para atender a produção jornalística com a nova realidade financeira e editorial desde que o jornal parou de ser impresso”.

Leandro, no entanto, faz questão de afirmar que “não gostaria de me manifestar muito, porque os fatos falam por si só. Eu digo sempre para todo mundo que me procura de que não quero prejudicar ninguém, apenas fazer o meu trabalho”.

O jornalista lembra ainda: “eu acatei uma denúncia do Sindicato, ouvi todos os envolvidos, fiz o que qualquer jornalista profissional faria. O veículo para quem eu trabalhava emitiu uma nota dizendo que minha saída se deu por motivos financeiros e ajustes internos.”

“Quanto a mim, em meio ao turbilhão de gente apoiando e perguntando sobre o assunto oferecendo ajuda jurídica, eu digo que os fatos falam por si só. Existe a versão do jornal e existe a minha demissão ter acontecido cinco minutos após a publicação da matéria”, prossegue. 

Entenda o caso

A reportagem de Leandro Schmitz revelou que cerca de 13 trabalhadores foram fotografados e filmados na última segunda-feira (27), chegando em uma unidade de Bem-estar e Proteção Animal de Joinville.

Os trabalhadores também foram vistos no mesmo dia almoçando em locais reservados a cães e outros animais, em condições insalubres para pessoas fazerem refeições.

A denúncia foi liderada pelo Sindicato dos Servidores Públicos de Joinville (Sinsej).

Os trabalhadores que aparecem nas imagens são prestadores de serviço da empresa terceirizada pela prefeitura de Joinville, Celso Kudla Empreiteiro Eireli, responsável pela obra de reestruturação do local.