O vereador Sandro Fantinel, que ganhou holofotes na última terça-feira (28) ao ir à tribuna da Câmara Municipal de Caxias do Sul (RS) para atacar com xenofobia trabalhadores baianos vítimas do trabalho escravo, já usou a casa legislativa em outra ocasião para outros impropérios.
Bolsonarista ferrenho, Fantinel relativizou o escândalo dos mais de 200 trabalhadores - a maioria da Bahia - resgatados em situação análoga à escravidão em uma empresa terceirizada que oferecia mão de obra para as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em Bento Gonçalves (RS), e afirmou que os nordestinos, a quem ele se referiu como os "lá de cima", seriam "sujos", sugerindo que as empresas gaúchas do ramo contratem apenas argentinos.
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Por esta declaração, o vereador se tornou alvo de pedidos de prisão e de ações pela cassação de seu mandato. Ele já foi, inclusive, expulso de seu agora ex-partido, o Patriota, pela fala xenófoba.
Essa não é a primeira vez, entretanto, que Sandro Fantinel reproduz discursos absurdos na Câmara de Caxias do Sul. Em sessão ordinária no dia 17 de novembro de 2022, em meio à intensificação dos ataques de bolsonaristas ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a vitória eleitoral do presidente Lula, o vereador reproduziu uma fake news absurda que circulava entre os radicais: a de que um ministro da Corte teria "participado de orgia com crianças".
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"Um ministro do Supremo Tribunal Federal participou de orgia com crianças fora do Brasil. Como é que um cara desse vai permitir que sejam criadas leis mais severas pra quem comete esse crime aqui dentro? A vergonha começa lá em cima. A gente sempre tirou exemplo pelos nossos pais quando a gente era criança. E o povo tira o exemplo das nossas autoridades", disparou na ocasião.
À época, o vereador não recebeu qualquer tipo de punição por divulgar a fake news na Câmara de Caxias do Sul. A nova declaração, desta vez com tom xenófobo contra trabalhadores baianos vítimas das condições análogas à escravidão, já tem rendido medidas políticas e judiciais.
Assista ao vídeo em que Sandro Fantinel envolve ministro do STF em "orgia com crianças"
Ataque aos trabalhadores baianos
No plenário da Câmara Municipal de Caxias do Sul, na manhã desta terça-feira (28), Fantinel relativizou o escândalo dos mais de 200 trabalhadores - a maioria da Bahia - resgatados em situação análoga à escravidão em uma empresa terceirizada que oferecia mão de obra para as vinícolas Salton, Aurora e Cooperativa Garibaldi, em Bento Gonçalves (RS), e afirmou que os nordestinos, a quem ele se referiu como os "lá de cima", seriam "sujos", sugerindo que as empresas gaúchas do ramo contratem apenas argentinos.
Em seu discurso, Fantinel disse que visitou um alojamento de um produtor de uva no município após pedido do agricultor que diz ter contratado trabalhadores do Nordeste para trabalhar na safra.
"Ele me chamou lá para ver o alojamento, porque os caras trabalharam por uma semana e meia e pediram as contas. Ele pagou tudo direitinho e foram embora. Não dava para entrar no alojamento. O fedor de urina, o fedor de podre e da imundícia (SIC) que eles deixaram o alojamento em uma semana e meia", disparou, exaltado, o bolsonarista.
"Temos que botar eles no hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?", ironizou. "Agricultores, produtoras e empresas agrícolas que estão nesse momento me acompanhando, eu vou dar um conselho para vocês: não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo. Vamos criar uma linha e contrar os argentinos", prosseguiu.
E ainda emendou: "Em nenhum problema no estado teve problema com argentino ou grupos de argentinos. Agora com os 'baianos', que é a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor".
A fala do vereador gerou grande repercussão e políticos da região já vêm tomando algumas medidas, O deputado estadual Leonel Radde (PT-RS), por exemplo, registrou um boletim de ocorrência contra Fantinel.
Já no final da tarde desta terça-feira, o PSOL do Rio Grande do Sul anunciou que vai entrar com um pedido de prisão do vereador no Ministério Público com base na lei 7716/89, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A legenda ainda entrará com uma ação na Câmara de Caxias do Sul solicitando a cassação do bolsonarista.