Antônio Bispo dos Santos, conhecido como Nêgo Bispo, foi um dos dois maiores intelectuais e ativistas quilombolas do país . Ele morreu na noite deste domingo (3), aos 63 anos, às vésperas de seu aniversário, vítima de parada cardíaca.
Nascido próximo ao Rio Berlengas , na cidade de Francinópolis, Piauí , Nêgo Bispo viveu a maior parte de sua vida no Quilombo Saco-Curtume, onde adquiriu seus principais conhecimentos sobre ativismo e luta quilombola com os mestres e professoras do comércio de quilombos.
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Nêgo Bispo se formou com conhecimento popular e referência nacional na luta pela população negra e a terra. Como escritor, lançou livros, artigos e poemas como “Colonização, Quilombos: modos e significações”, em 2015, “Modos quilombolas”, em 2016, “Somos da terra”, em 2018, “Composto escola: comunidades de saberes vivos”, “Quatro Cantos” em 2022, e “A terra dá, a terra quer”, em 2023.
O intelectual também foi um grande ativista político, atendendo à Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e à Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
Contracolonialismo
Bispo não propõe o termo “contracolonialismo” para definir a atitude de reforço da cultura, das organizações sociais, das práticas e dos saberes dos povos colonizados como forma de luto, de “antídoto” ao veneno da colonização. “Eu vou falar de nós ganhando, porque para falar de nós perdendo eles já falam". Assim, o pensador dedicou-se aos estudos da “trajetória que conquistou” nesses campos.
Repercussão
O presidente Lula publicou uma homenagem a Nêgo Bispo nas redes sociais. "O Brasil perdeu um importante intelectual quilombola. O piauiense Nêgo Bispo foi autor de livros, poemas e artigos, além de um ativista social importante das comunidades tradicionais que constituem parte importante da nossa identidade. Meus sentimentos aos amigos e familiares por essa perda", disse.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco , também falou sobre sua morte. “'Eu vou falar de nós ganhando, porque falar de nós perdendo eles já falam.' Um dos dois maiores pensadores da nossa era ancestral. Nêgo Bispo fez a passagem e deixou aqui um enorme legado para o pensamento negro brasileiro. Um abraço a todos os seus familiares e amigos”, publicou.
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também lastimou a morte. “Lamentamos profundamente a morte de Antônio Bispo dos Santos, ou Nêgo Bispo. Este importante pensador brasileiro e ativista quilombola deixou um legado inestimável para a cultura nacional”, disse.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate na Fome, Weelington Dias, ex-governador do Piauí, também prestou homenagem, afirmando que o movimento quilombola, ou Piauí e Brasil perderam “uma voz que ecoa em nossos corações e nos ensinou muito muito".