TRÁFICO E LAVAGEM DE DINHEIRO

Cariani engana seguidores sobre indiciamento e anuncia "reação" ao Fantástico; veja vídeo

"Não significa que eu fiz algo errado", disse o influenciador bolsonarista, que tem usado a investigação sobre desvios de produtos para produção de cocaína e crack para turbinar suas redes sociais.

Renato Cariani em vídeo para seguidores no Instagram.Créditos: Instagram
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Após prestar depoimento na Polícia Federal sobre o suposto esquema de desvio de produtos químicos para o Primeiro Comando da Capital (PCC) produzir toneladas de cocaína e crack, o empresário e influenciador bolsonarista Renato Cariani foi às redes sociais ludibriar os seguidores sobre o indiciamento pelos crimes de tráfico equiparado, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

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Cariani deixou a sede da PF em São Paulo sem falar com os jornalistas e informou, por meio dos advogados, que iria se pronunciar apenas pelos seus perfis, usando o caso para turbinar as contas nas redes sociais - após a operação, ele aumentou em 100 mil o número de seguidores no Instagram.  

Em sequência de vídeos nos stories, Cariani, no entanto, ludibriou os 7,5 milhões de seguidores minimizando o seu indiciamento pelos crimes.

"Eu já sabia e fui ciente que sofreria um indiciamento. Não vai ser eu, todas as pessoas sofreram indiciamento. Afinal de contas, eles fizeram busca e apreensão em minha casa. E o que é o indiciamento para você entender? O indiciamento é quando a polícia entende que há indícios de algo errado, que possa ser criminoso", afirmou. 

Em seguida, o bolsonarista enganou os seguidores dizendo que o indiciamento "não significa que fiz algo de errado", distorcendo a interpretação dos investigadores.

"Não significa que eu fiz algo errado ou que minha sócia fez algo errado. Significa que alguém ali fez algo errado, há indícios. E eu sou uma das pessoas envolvidas. Afinal de contas, sou sócio da empresa. Então, tá tudo bem", disse. "Eu já vi capa ai dos canais de fofoca maromba. Vai vir todos os canais (SIC): CNN, G1, Total, que Renato Cariani vai ser indiciado. Mas, é óbvio que eu seria indiciado", emendou o influencer. 

O bolsonarista afirmou ainda que após os depoimentos, vai começar uma "batalha" para "recuperar sua reputação" e mirou o programa Fantástico, da TV Globo, que fez uma longa reportagem no último domingo (17) sobre a organização criminosa de Cariani.

"Agora começa uma batalha de recuperação da minha reputação que foi literalmente assassinada através principalmente da imprensa dos canais abertos. Eu entendo que eles estão fazendo o trabalho deles, entendo que é a capa e o título que vendem, precisam apelar mesmo, fazer de tudo para vender. Mas, era eu, né? Então, quem fica com as consequências sou eu", disse.

Cariani anunciou a participação em "vários podcasts" e uma reação à Globo, usando a resposta ao Fantástico para turbinar ainda mais as suas redes sociais.

"Amanhã sai vídeo onde vou reagir ao vídeo do Fantástico e vou mostrar tudo que o Fantástico colocou e vou provar tudo que está ali", afirmou.

Depoimento à PF

Cariani foi indiciado nesta segunda-feira (18) pela Polícia Federal por três crimes: tráfico equiparado, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Acusado de desviar de suas empresas, direto para facções do crime organizado, insumos para a produção de crack e cocaína, ele prestou um depoimento à PF em São Paulo mais cedo.

A oitiva durou mais de 4 horas, na sede da PF na Lapa, bairro da zona oeste de São Paulo. Cariani chegou acompanhado pelo advogado por volta das 13h30 e saiu próximo das 18h indiciado pelos três crimes. Na chegada, disse à imprensa que iria “esclarecer tudo” logo após o depoimento mas até a publicação dessa matéria ele ainda não se pronunciou publicamente.

Ao lado de outras três pessoas, Cariani teve a prisão preventiva pedida pela PF, mas negada pela Justiça. Agora ele aguarda em liberdade o parecer do Ministério Público, que pode aceitar ou não o indiciamento. Em caso positivo, começa a rolar um processo judicial contra o empresário. Enquanto isso as investigações seguem em curso.

As investigações começaram graças a um trambique usando o nome de uma gigante farmacêutica, a Astrazeneca. Foi o gatilho que despertou a atenção das autoridades para o caso da empresa Anidrol, que tem Cariani como um de seus sócios. Ele foi alvo na última semana (12/12) de uma operação da Polícia Federal por conta das suspeitas.

Em 2017, depósitos em dinheiro vivo totalizando R$ 212 mil foram feitos nas contas da Anidrol. Na hora de declarar na “boca do caixa” quem depositava os valores, a pessoa que realizava a transação deu o nome e o CNPJ da Astrazeneca. Como era de se esperar, a Receita Federal notou que a multinacional de origem anglo-sueca não declarou o dinheiro em seu imposto de renda e chamou seus responsáveis contábeis, que informaram ao fisco que aqueles valores nunca foram depositados pela empresa.

A empresa cujo um dos donos é Cariani insistiu para a Receita Federal que aqueles valores tinham sido, sim, depositados pela Astrazeneca, fruto de uma relação comercial em que teria fornecido uma carga de cloreto de lidocaína para a gigante farmacêutica, mostrando inclusive toda a troca de e-mails com alguém que se apresentava como representante da multinacional. Só que a pessoa não era funcionária do laboratório e a Astrazeneca informou que jamais teve a Anidrol como sua fornecedora e que nunca fez pagamentos em espécie a quem quer que seja.

De acordo com a PF, o objetivo do esquema era abastecer o PCC. Fábio Spinola Mota, apontado como membro PCC, seria o principal elo entre Cariani e a facção. Ele foi preso no início deste ano na Operação Downfall da PF do Pará, que investigou esquema de "tráfico internacional e interestadual de drogas, com diversas ramificações no país". Durante essa investigação foram realizadas prisões, apreensão de cerca de 5,2 toneladas de cocaína e bloqueio de bens estimados em R$ 1 bilhão.

Preso até o mês passado, Mota também foi um dos alvos da operação Hinsberg, realizada pela PF de São Paulo, além do próprio Cariani e de Roseli Dorth, a sócia do influenciador em uma empresa para venda de produtos químicos, a Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema.

A polícia acredita que parte do material adquirido legalmente pela Anidrol, compra rigidamente controlada pela PF, era desviada para a produção de cocaína e crack. Para justificar a saída dos produtos, eram emitidas notas fiscais falsas e depósitos em nome de laranjas, usando indevidamente o nome da multinacional AstraZeneca.

Cariani nega as acusações. "Pela manhã fui surpreendido pelo cumprimento de mandado de busca e apreensão da polícia na minha casa, onde fui informado que não só a minha empresa, mas várias empresas estão sendo investigadas num processo que eu não sei. Os meus advogados agora vão dar entrada pedindo para ver o processo e aí sim eu vou entender o que consta nessa investigação", afirmou na data da operação da PF em seus endereços.