A maioria dos estudantes, professores e gestores de escolas que começaram a implementar o Novo Ensino Médio está insatisfeita com o modelo. Isso é o que aponta uma pesquisa, ainda em andamento, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Para o estudo, foram entrevistados mais de 2,4 mil professores, gestores e estudantes de escolas públicas estaduais que começaram a atuar com o o Novo Ensino Médio na 1ª série no ano de 2022. As entrevistas foram realizadas entre 23 de junho e 6 de outubro de 2023, de forma presencial e online.
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De acordo com o resultado, 56% dos estudantes, 76% dos docentes e 66% dos gestores estão insatisfeitos com as mudanças promovidas pelo Novo Ensino Médio, contra 40% dos estudantes, 17% dos docentes e 26% dos gestores satisfeitos.
O Novo Ensino Médio é alvo de críticas desde a sua aprovação, em 2017, pelo governo de Michel Temer. Entre as principais reclamações estão o aumento na desigualdade da educação oferecida pelas escolas públicas e particulares com o novo currículo; a pressão para que os alunos escolham uma direção de carreira ainda no E.M. e a não obrigatoriedade das disciplinas de Filosofia, História, Sociologia e Geografia. Porém, essa última mudança foi revogada pelo Governo Lula neste ano.
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Para a a coordenadora do setor de Educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero, a pesquisa foi feita para subsidiar as tomadas de decisão do Ministério da Educação (MEC) e os estados.
Ainda de acordo com a pesquisa, 86% dos estudantes afirmaram que tinham a Formação Técnica e Profissional como uma das áreas de seu interesse, mas apenas 27% dos gestores informaram ofertar disciplinas ou cursos deste tipo em suas escolas.
A maioria (74%) dos gestores também apontou que o maior desafio para a implementação é a formação continuada para docentes e gestores. Dois a cada três gestores (67%) apontaram a adequação da infraestrutura e o mesmo percentual considerou a obtenção de apoio técnico e aquisição e elaboração de material didático.
Formação insatisfatória
Os professores também apontam que a formação que receberam foi insatisfatória. Para 59%, a formação para implementar a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi inadequada e para 64% a formação para implementar os itinerários formativos deixou a desejar.
Rebeca Otero reforça que é preciso levar em consideração esse descompasso entre o que está sendo possível ofertar e o que está sendo demandado para que sejam criadas condições para melhor atender tanto estudantes quanto professores e gestores.
“Para além da disputa política que a gente vê em cima do tema, temos que ver que são estudantes, são os nossos jovens, e é a vida deles que está em jogo, e a dos profissionais, dos docentes e gestores. É importante trazer a voz deles nesse momento”, afirma.