INDÍGENAS

Cacique Raoni acusa diretor belga de explorar parceria e desviar dinheiro em seu nome

Apenas uma parte dos fundos arrecadados para o povo Kayapó teria efetivamente chegado ao destino, segundo o líder indígena

Cacique Reoni.Créditos: Laycer Tomaz/Câmara dos Deputados
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O cacique Raoni Metuktire e o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux decidiram encerrar sua parceria de mais de 50 anos, que mantinham em uma extensa colaboração em prol dos povos indígenas brasileiros. O fato ocorreu pouco depois de participarem juntos no Festival de Cannes, durante o lançamento do documentário "Raoni: Uma Amizade Improvável", dirigido por Dutilleux.

A informação é da agência de notícias Associated Press, que afirma que Raoni e indivíduos próximos ao cacique falaram sobre a suspeita de, há bastante tempo, Dutilleux não repassar os recursos arrecadados para os Kayapó, além de explorar a imagem de Raoni para alavancar sua própria carreira cinematográfica.

Durante cinco décadas, o cacique Raoni Metuktire e o cineasta belga mobilizaram presidentes, membros da realeza e até o Papa Francisco para promover melhorias nas vidas dos povos indígenas brasileiros e salvaguardar suas terras.

Segundo Raoni, seu nome vem sendo usado pelo cineasta para adquirir lucros. “Meu nome é usado para arrecadar dinheiro”, disse Raoni à Associated, durante uma entrevista em Brasília. “Mas o Jean-Pierre não me passou muito para eu fazer alguma coisa.” 

A amizade entre Dutilleux e Raoni teve início quando o belga, aos 22 anos, visitou o Brasil nos anos 1970. Seu objetivo era dirigir um filme etnográfico na floresta amazônica, mas ele foi confrontado por um dos trabalhadores da construção de estradas, ameaçado por um grupo de indígenas Kayapó. Foi nesse momento que Raoni interveio para preservar a vida do diretor.

O rompimento

Em 2022, Dutilleux se encontrou com Raoni e o persuadiu a realizar uma última jornada para apoiar a divulgação de seu documentário mais recente, assegurando ao cacique que conseguiriam angariar recursos significativos para sua comunidade.

Raoni e os líderes Kayapó encaravam as promessas de Dutilleux de forma cética. No entanto, aqueles familiarizados com o cacique afirmam que não ficaram surpresos com sua decisão de se juntar ao cineasta na Europa. Na época, Raoni concordou com a proposta com hesitação. A situação na Amazônia estava bastante deteriorada em razçao da presença de madeireiros e garimpeiros ilegais, que cresceu sob o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro, resultando em um aumento acentuado no desmatamento.

“Ele vê muito além das disputas mesquinhas entre egos e famílias”, diz o ambientalista francês Philippe Barre, que já trabalhou com Raoni no passado. “O que importa para ele é que os assuntos importantes surjam (...) mesmo que alguém encha os próprios bolsos no processo.”

Com informações de g1