POLÍCIA FEDERAL

Servidor da PGR seria “setor financeiro” da quadrilha que vende armas para o PCC e o CV, diz PF

Revelação foi feita no âmbito da Operação Dakovo, que investiga um esquema bilionário de tráfico de armas que beneficia facções criminosas

Documento que comprova a condição de Wagner como investigado.Créditos: Reprodução/PF
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A Operação Dakovo, da Polícia Federal, deflagrada na última semana para desbaratar uma quadrilha que opera negócio bilionário de tráfico de armas para o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), fez uma nova descoberta. Circula nos principais meios de comunicação do país a informação de que um dos homens responsáveis pela gestão financeira da quadrilha é servidor do Ministério Público Federal, lotado na sua instância maior, a Procuradoria-Geral da República (PGR).

O nome apontado pelos federais é o do analista processual Wagner Vinicius de Oliveira Miranda. O gancho dos investigadores estaria numa empresa da qual o servidor é sócio. Contas bancárias dessa empresa seriam usadas para receber pagamentos de drogas e armas.

Conforme determinação da Justiça Federal da Bahia, Wagner teve sua casa visitada pela Polícia Federal e está afastado das suas funções na PGR por 30 dias, enquanto correm as investigações. A medida visa impedir que ele tenha acesso a sistemas internos da PGR, uma vez que poderia acessar informações relativas a investigação.

Ele tem cadastro ativo nos sistemas do TRF-1 e como membro do MPF também tem acesso a todos os processos, incluindo aqueles em sigilo. De acordo com a investigação seu nome aparece em comprovantes de depósitos da quadrilha.

Sócio das empresas Steak House Restaurante e Bravoshop, Wagner é apontado pela PF como um dos envolvidos em operação financeira de Angel Antonio Flecha Barrios, o homem apontado como intermediário do grupo na fronteira com o Paraguai.

A Bravoshop, supostamente uma empresa de comércio online, seria na verdade uma empresa de fachada utilizada para receber os pagamentos. A PF identificou outro sócio da empresa, Raimundo Nascimento Pereira. Pereira é sócio da Bravo Brasil, empresa aberta no mesmo dia e com os mesmos e-mail e telefone da Bravoshop de Wagner.

Quando analisavam as conversas de Barrios, um homem identificado como “Hevert” entrou no radar dos investigadores. Ele e Barrios discutiam sobre tráfico de maconha, cocaína e substâncias químicas que servem para a produção de anfetamina e ketamina. Nessas conversas, gravadas entre 12 e 19 de julho de 2022, “Hevert” enviou três comprovantes bancários, no total de R$ 53 mil, da Bravo Brasil – Iphones Ltda, para contas de empresas operadas por Barrios (DDM Aviação Ltda e David Carlos Ferreira Ltda).

Além disso, entre 20 de julho e 24 de outubro de 2022, Wagner teria depositado um total de R$ 150 mil para a Bravo Brasil em dinheiro vivo. As autoridades acreditam que se trate de lavagem de dinheiro.

Operação Dakovo

A Polícia Federal (PF) deflagou na manhã de5 de dezembro (terça-feira), 25 mandados de prisão preventiva, seis de prisão temporária e 52 mandados de busca e apreensão em três países: Brasil, Estados Unidos e Paraguai. A operação é contra um grupo suspeito de entregar 43 mil armas para os chefes das maiores facções do país — Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho —, movimentando R$ 1,2 bilhão.

O principal alvo da operação é Diego Hernan Dirísio, considerado pela PF o maior contrabandista de armas da América do Sul. Ele está foragido no Paraguai e ainda não foi encontrado.

No mesmo dia cinco envolvidos no crime foram presos no Brasil e 11 no Paraguai. A Justiça Federal da Bahia, encarregada da condução da operação, determinou que os indivíduos passíveis de prisão no exterior sejam incluídos na lista vermelha da Interpol e, se detidos, extraditados para o Brasil.

A investigação teve início em 2020, quando pistolas e munições foram apreendidas no interior da Bahia. As armas apresentavam números de série raspados; contudo, por meio de perícia, a Polícia Federal obteve as informações necessárias para avançar nas apurações.

Três anos depois, a cooperação internacional que resultou na presente operação revela que um indivíduo argentino, proprietário da empresa chamada IAS, sediada no Paraguai, adquiria armamentos, como pistolas, fuzis, rifles, metralhadoras e munições, de fabricantes localizados em países como Croácia, Turquia, República Tcheca e Eslovênia.

Após a compra, as armas eram comercializadas para facções brasileiras, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O esquema envolvia também a participação de doleiros e empresas fictícias no Paraguai e nos Estados Unidos.

As investigações indicam ainda a existência de corrupção e tráfico de influência na Direccion de Material Belico (DIMABEL), órgão paraguaio responsável por controlar, fiscalizar e liberar o uso de armas, facilitando o funcionamento do referido esquema.