O presidente da Enel no Brasil, Nicolas Cotugno, renunciou ao cargo na última quinta-feira (23), após cinco anos no comando da concessionária. A demissão ocorre vinte dias após a apagão na região metropolitana de São Paulo (SP), que deixou milhões de habitantes sem luz, e no dia de falha elétrica na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).
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Em comunicado, a Enel Brasil agradeceu a contribuição do ex-presidente da companhia: "A Enel Brasil agradece a Nicola Cotugno por toda a dedicação ao grupo e seus colaboradores, além do destacado foco nos clientes e contribuição à sociedade".
De acordo com declarações da empresa, a saída de Cotugno foi deliberada em reuniões internas do conselho das distribuidoras e da Enel Brasil, em outubro, antes do apagão. A decisão, no entanto, foi prorrogada até esta semana em decorrência das falhas da distribuidora do grupo na Grande São Paulo e no Rio de Janeiro (RJ), após fortes temporais.
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Funcionário do grupo italiano desde 2009, o substituto será o executivo Antonio Scala, que assumirá a posição com a conclusão dos trâmites administrativos necessários para a normação. Enquanto isso, o presidente do conselho de administração da Enel Brasil, Guilherme Gomes Lencastre, será o presidente interino da empresa.
Paraty à luz de velas
A queda de energia na Flip ocorreu por volta das 19h10 na quinta-feira (23) e culminou no cancelamento de atividades do evento literário, como o debate entre Bernardo Carvalho e Lucrécia Zappi, na Casa Folha. O comércio local também foi afetado pelo apagão.
A Prefeitura Municipal de Paraty comunicou que um raio havia atingido a linha de transmissão e que a previsão de retorno da energia elétrica era para às 21h – a luz voltou apenas às 23h, contudo.
O prefeito Luciano de Oliveira Vidal (MDB) criticou a Enel, responsável pela distribuição de energia no município, e alertou o governo federal sobre as falhas nos serviços da concessionária: "Nós já estávamos alertando o governo federal, fomos uma das primeiras cidades a denunciar a Enel. No ano passado, fui em pessoa [a Brasília] falar dos problemas que Paraty estava tendo".
"A Prefeitura reitera que lamenta profundamente os transtornos provocados pelas dificuldades de operação e de manutenção da rede por parte da Enel, empresa cuja fiscalização é de responsabilidade da Aneel", escreveu a prefeitura, diante da suspensão no fornecimento de energia.
Em nota, a Enel afirmou que o raio provocou oscilação de tensão na linha de distribuição Mambucaba-Paraty, que atende a cidade: "Para realizar os reparos necessários na Linha, a empresa precisou realizar um desligamento temporário de forma emergencial. A companhia mobilizou todos os esforços para garantir a energia para a cidade.
A Enel ainda informou que técnicos da distribuidora atuaram "em local de difícil acesso e densa vegetação, com fortes chuvas, no momento do reparo".
O apagão em São Paulo
O temporal em 3 de novembro causou uma falha no fornecimento de energia elétrica nas 24 cidades da região metropolitana de São Paulo e deixou milhões de pessoas sem luz por mais de cinco dias.
Três dias após a falha no fornecimento de luz, quando mais de 315 mil imóveis ainda estavam sem luz e oito pessoas haviam falecido, Cotugno negou a responsabilidade da companhia no apagão: "Não é para nos desculparmos, não. O vento foi absurdo". Segundo ele, o evento extraordinário teria derrubado árvores, o que dificultou a resposta imediata.
Cotugno foi chamado para depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enel, que registou quedas de energia durante a sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), no dia 14. O presidente da Enel São Paulo, Max Xavier Lins, teve seu depoimento interrompido por uma das quedas de energia.
Segundo Lins, a Enel não teve responsabilidade na falta de energia durante a sessão. O presidente da concessionária no estado paulista afirmou que não houve problema elétrico da Enel e que as oscilações foram provocadas por chaveamento interno.
A Enel é alvo de investigação na Alesp e na Câmara Municipal de São Paulo. O Ministério Público do estado (MP-SP) abriu uma investigação para apurar se houve omissão da Enel no reestabelecimento de energia para os consumidores.
Instaurada em maio deste ano, a CPI da Enel investiga irregularidades e práticas abusivas cometidas pela empresa entre 2018 e 2023. Os presidentes da empresa haviam sido convocados na ocasião, porém não compareceram.