Uma operação da Polícia Federal (PF) com bombas, bala de borracha e apreensão de celulares de indígenas instaurou um cenário de terror na comunidade Guarani Kaiowá em Dourados, Mato Grosso do Sul. A ação ocorreu após dois meses que casas foram incendiadas e plantações destruídas.
Apelidada de Py’Aguapy que, segundo a PF, significa “pacificação”, a operação ocorrida na última sexta-feira (6) se soma à onda de ataques e ameaças que sofre uma das etnias mais ameaçadas do país.
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“Começaram a atirar do nada. Levaram documento, levaram celular, levaram mapa do nosso tekoha, passaram em cima do xirú [objeto sagrado Guarani e Kaiowá]… eles derrubaram o xirú com a viatura. A ameaça aqui está acontecendo todo dia”, contou Kunumi Verá em entrevista a Esteban del Cerro, publicada no portal Quilombo Invisível.
Além dos tiros e bombas, gás lacrimogêneo também foi usado contra crianças e idosos. Kuna Poty, uma nhandesy (rezadora) de 74 anos, foi ferida na mão.
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Em nota, a PF afirmou que a ação, que não contou com a presença obrigatória da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) foi “para verificar a presença de armas de fogo sob posse dos índios”.
Onda de ataques
O território de tekoha Avae’te, que conta com 24 famílias e cerca de 120 pessoas, segundo informações do Mapa de Conflitos, é reivindicado pelos indígenas há anos, que vêm progressivamente reconquistando sua terra. Em 2009, o Ministério da Justiça publicou uma portaria para demarcação do território, que ainda espera homologação do Governo Federal.
Sem seu direito assegurado oficialmente, a situação da TI é ainda mais difícil. Cercados por monoculturas de soja e milho, os indígenas sofrem constantes ataques de fazendeiros.
Foi dos conflitos na propriedade que surgiu o “caveirão”, como é chamado pelos indígenas um trator blindado com chapas de aço que passa por cima de barracos e plantações. Em agosto, um ataque com o “caveirão” foi realizado, que também resultou em casas incendiadas.
Sem proteção governamental, o povo Guarani Kaiowá vem retomando seus territórios de forma autônoma e lidando com com ações violentas.