RIO DE JANEIRO

De refúgio à beira-mar a narcomilícia: Recreio vê índices de violência e letalidade crescerem 218%

Local está entre os 20 bairros do RJ com maior número de denúncias de atividade de milícia desde 2020, aponta ranking

Rotina do Recreio dos Bandeirantes mudou com a ação da milícia e do tráfico.Créditos: Reprodução/TV Globo
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"Nossa segurança aqui há 8 anos era boa, a gente saía na rua, a gente saía de noite, a gente ia pra shopping, voltava de ônibus do shopping, pra casa e não tinha preocupação. Hoje eu procuro não estar na rua ao anoitecer. Eu e todos os moradores", afirmou uma moradora do bairro Recreio dos Bandeirantes ao g1.

Índices de violência disparam no bairro litorâneo da Zona Oeste do Rio de Janeiro, antes conhecido por ser destino para muita gente que buscava sossego nos anos 1990. De acordo com registros da 42ª DP (Recreio), a letalidade violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão seguida de morte, e morte pela polícia) no bairro, por exemplo, obteve 218% de alta entre 2022 e 2023.

A rotina do bairro mudou com a ação da milícia e do tráfico. Segundo investigações, a região da comunidade do Terreirão já conta com a chamada narcomilícia, isto é, milicianos e traficantes dividem o mesmo território: a milicia de Zinho atua durante o dia, e os traficantes do Comando Vermelho, durante a noite. Matheus Resende, conhecido como Faustão foi morto em um confronto policial seguido de uma série de ataques de milicianos a 35 ônibus, em represália, e Zinho é o tio dele.

De paraíso a pesadelo

Nos anos 1990, o Recreio era um bairro tranquilo e bucólico, com uma orla que lembrava cidades litorâneas fora da capital. Por isso, era uma opção atraente para famílias que buscavam um lugar seguro para viver na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

No entanto, a realidade agora é diferente. O bairro vive um clima de insegurança, e muitos moradores estão pensando em deixar seus imóveis. O cenário de terror de segunda-feira, com uma série de tiroteios, é um claro exemplo da presença da milícia no Recreio.

Em um clima de terror, passageiros em desespero fugiram de um BRT incendiado na Avenida Benvindo de Morais. Outro ônibus foi queimado ao lado da estação Notre Dame, em mais um sinal da presença de milicianos na Zona Oeste.

As autoridades de segurança do Rio sabem que a milícia está no Recreio desde meados da década de 90, quando se instalou no Terreirão. Agora, os criminosos estão expandindo suas atividades para além da comunidade. Segundo a polícia, estão cobrando taxas ilegais de segurança de condomínios e de comerciantes de diversas ruas no entorno da comunidade.

Ranking de violência

De acordo com o Disque Denúncia, o Recreio é um dos 20 bairros do Rio com mais denúncias de atividade de milícias desde 2020. Isso inclui localidades historicamente dominadas por milícias, como Rio das Pedras e Sepetiba. As estatísticas de violência da delegacia do bairro também confirmam o aumento da violência na região.

De janeiro a setembro de 2023, a violência no Recreio dos Bandeirantes aumentou significativamente, com uma elevação de 38% nos roubos em rua, 62% nos assaltos a pedestres, 14% nos roubos de veículos, 218% na letalidade violenta e 156% nos assassinatos. A região também tem sido palco de tiroteios frequentes, como o que aconteceu no início de setembro, quando duas mulheres foram baleadas no Terreirão.