200 ANOS DA INDEPENDÊNCIA

Coração de Dom Pedro I embarca para o Brasil; Veja como será o procedimento

Órgão do primeiro imperador do Brasil, figura-chave da ruptura com o domínio colonial português, chega nesta segunda (22) ao país, para as comemorações do Bicentenário da Independência, ainda que cercado de críticas

Recipiente com o coração de Dom Pedro I.Créditos: YouTube/Reprodução
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O coração de Dom Pedro I, imperador do Brasil (e Dom Pedro IV, em Portugal), embarcará nos primeiros minutos de segunda-feira (22), precisamente à 0h20, do Porto, com destino a Brasília, para desembarcar no mesmo dia na nação que ganhou a soberania por suas mãos, em 7 de setembro de 1822. A vinda do órgão do monarca foi um acordo entre os governos dos dois países para a comemoração do Bicentenário da Independência do Brasil.

Morto em 1834, seus restos mortais foram mandados a São Paulo em 1972, durante a Ditadura Militar (1964-1985), mas seu coração permaneceu em solo português e repousa há século na Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, de onde foi retirado para ser trazido de volta ao Brasil para a data célebre, da qual foi personagem central.

Neste domingo, pela primeira vez na história, o coração de Dom Pedro I ficará exposto ao público naquela instituição religiosa lusitana. Encerrada a abertura ao público, o recipiente de vidro com adornos metálicos que comporta o órgão real será levado para uma cerimônia na presença do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e do embaixador do Brasil em Lisboa, Raimundo Carreiro Silva.

Pouco antes da meia-noite, a relíquia será então encaminhada com escolta oficial ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, onde será colocada numa câmara pressurizada de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), para então cruzar o Atlântico e aterrissar em Brasília na manhã de segunda-feira (22), onde será recebido com honras militares e na presença de autoridade, inclusive do presidente Jair Bolsonaro. Após a recepção, o coração será levado ao Itamaraty, a sede do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, para apresentação ao corpo diplomático nacional e onde deverá permanecer em “exibição controlada”.

De acordo com autoridades e peritos portugueses que foram contrários à trasladação do órgão do antigo imperador para o outro lado do oceano, uma das maiores preocupações é com a possibilidade da relíquia sofrer avarias ou deterioração por conta das mudanças de pressão ocorridas durante o voo, ou ainda em decorrência da temperatura e da umidade brasileiras, bem diferentes das condições climáticas da cidade do norte de Portugal onde ele permaneceu nos últimos séculos.

Críticas, morbidez e ditadura

Para muitos brasileiros (e também portugueses) a iniciativa de Brasília de requerer a presença do coração de Dom Pedro I nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil é algo absurdo e descabido. As críticas são em vários sentidos, mas sobretudo em relação à morbidez de se trazer um pedaço de corpo humano para se festejar uma data nacional, mas vai também na direção técnica: o conteúdo do vidro, extremamente frágil, poderia ser danificado com muita facilidade.

Quem discorda também da ideia “incomum” aponta um amadorismo e improviso vergonhosos por parte das autoridades brasileiras, que teriam tido a ideia às pressas, muito próximo das festividades, impondo aos portugueses uma situação constrangedora e de difícil manejo diplomático.

“O coração do D. Pedro é preservado em condições muito delicadas, lá na Igreja da Lapa, no Porto, e há um risco real. O pedido de empréstimo é um eco autoritário de uma ditadura, porque na comemoração do aniversário dos 150 anos era o auge da ditadura, em 1972, os militares trouxeram os restos mortais de D. Pedro para o Museu do Ipiranga. Bolsonaro, que cultiva a ditadura brasileira, é um adepto da ditadura, é um homem autoritário, um misógino, preconceituoso, racista, tentou mimetizar os generais da ditadura militar. Eles trouxeram o corpo, então, num gesto simbólico, vamos trazer o coração”, disse o jornalista Laurentino Gomes, escritor de livros muito premiados e vendidos sobre a História do Brasil, em entrevista ao portal português Sapo.