PEDIDO INUSITADO

Coração de Dom Pedro I: Portugal teme que governo Bolsonaro perca ou estrague relíquia

Brasil havia pedido o órgão emprestado a Portugal para os 200 anos da Independência

Bolsonaro e o coração de Dom Pedro ICréditos: Reprodução / Evaristo SA/ AFP
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A Câmara Municipal do Porto, em Portugal, assim como a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, sinalizam que devem declinar ou pelo menos postergar ao máximo, o pedido inusitado do governo de Jair Bolsonaro (PL) de pegar emprestado o coração de Dom Pedro I para as festas dos 200 anos da Independência.

Constrangidos pela solicitação brasileira, já que se trata de uma relíquia de Portugal, os responsáveis por ela evitam falar sobre o assunto.  Apenas confirmam que "houve contatos para solicitar que o coração viajasse ao Brasil".

Contudo, tudo indica que há, sim, entre as autoridades, um temor que o cineasta português Miguel Gonçalves Mendes expressou ao portal Uol com as palavras: "Tenho medo que percam o coração", diz temeroso. 

"Entendo o simbolismo, foi Dom Pedro quem proclamou a independência do Brasil. Mas é um governo que deixa incendiar o Museu Nacional, a Cinemateca, que não cuida dos seus bens mais preciosos, deixa detonar tudo", desabafou.

Miguel Gonçalves Mendes Mendes foi a última pessoa a filmar e fotografar o coração de Dom Pedro I, em 2015, durante as gravações do longa  "O Sentido da Vida".

O coração de D. Pedro I está preservado em formol num recipiente de vidro depositado na Irmandade da Lapa. Para retirá-lo, é necessária uma operação minuciosa: primeiro uma chave para retirar uma pesada placa de cobre, depois duas chaves para remover uma grade, outra para abrir uma espécie de cofre, e a última fechadura dá acesso ao vaso de prata onde está a urna.

A cineasta brasileira Laís Bodanzky esteve recentemente na igreja da Lapa, no Porto, e contou que ouviu de cientistas responsáveis pela preservação do coração, que a relíquia pode deixar de existir se for enviada para o Brasil. 

"É um órgão muito frágil, que está isolado da luz e do manuseio. É como se fosse um pedaço de pão embebido em um líquido. A qualquer movimento, desmancha-se", afirma Bodanzky, que classifica o pedido de empréstimo como uma "farsa". 
Para a cineasta o pedido brasileiro "não faz sentido". "Primeiro pela questão física. Segundo porque o coração está no Porto por um pedido do próprio", afirma.

Bodanzky lembrou que durante a presidência do general Emílio Garrastazu Médici,  os ossos do ex-imperador foram transferidos para o Brasil.  "Era preciso que isso acontecesse para atender ao pedido de Dom Pedro I".  

Para ela, o governo de Jair Bolsonaro quer repetir o feito da gestão militar do general Médici.

"O governo atual flerta com ideais militares. Pedir o coração emprestado é uma forma ufanista e superficial de comemorar os 200 anos de uma independência que, de fato, nunca aconteceu. Podemos não ser mais colônia de Portugal, mas ainda somos uma colônia", contextualizou.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil confirmou que o "Itamaraty iniciou conversações com autoridades portuguesas para examinar a possibilidade de traslado temporário do coração de Dom Pedro 1º ao Brasil, no contexto das celebrações do bicentenário da Independência". 

A pasta informou que as "conversações encontram-se em andamento" com a Câmara e a Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, mas não informou sobre os planos para o coração,  se será exposto em alguma cerimônia pública ou privada, por exemplo.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, por sua vez, disse não ter pressa para tratar do assunto.

 

Com informações do Uol
 

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