Nos dois últimos anos, o Twitter figura entre as páginas da internet que mais propagaram crimes de ódio, segundo a organização Safernet.
No ano passado, a Central de Denúncias da Safernet recebeu 7.426 reclamações de conteúdos publicados no Twitter. Desse montante, a plataforma removeu apenas 309 publicações denunciadas.
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Segundo a entidade, a maior parte dos crimes denunciados se refere a exploração sexual infantil, com mais de cinco mil registros. Em seguida aparecem os crimes de racismo, apologia e incitação a crimes contra a vida e assim por diante.
A Safernet também registrou crescimento de 60% conteúdos neonazistas, com 14.476 denúncias no ano passado, contra 9.004 em 2020. As denúncias de pornografia infantil também registraram aumento de 3,65% em 2021, com 101.833 casos. Em relação à LGBTfobia, foram 5.347 denúncias.
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Especialistas em tecnologia e ativistas tem apontado para uma possível retaliação do Google e da Apple à rede social - com a exclusão dos aplicativos dos sistemas operacionais de celulares - caso haja uma mudança na política sobre restrição a discursos de ódio e fake news. O acesso de usuários à rede através dos celulares é o principal meio de uso da plataforma.
O assunto ganhou repercussão após uma postagem do ativista Shaun King. "Fui informado esta manhã que a Apple e o Google removerão o Twitter da App Store se ele não moderar e remover o discurso de ódio. Esta não é uma política nova, mas um compromisso já assumido. A Amazon Web Services tem o mesmo compromisso. Então é isso", disse King.
A possibilidade foi corroborada por outros analistas, inclusive adeptos do Partido Republicano, que criticaram Tim Cook, CEO da Apple.
Veja o ranking de denúncias:
Exploração sexual infantil - 5.139
Racismo - 920
Apologia e incitação a crimes contra a vida - 349
LGBTfobia - 303
Neonazismo - 236
Xenofobia - 193
Violência contra as mulheres - 175
Maus tratos contra animais - 83
Intolerância religiosa - 21
Tráfico de pessoas - 4
Crimes devem continuar
Bolsonaristas - incluindo o presidente da república - comemoraram a venda do Twitter. Isso porque Elon Musk flerta com a extrema direita global e a expectativa é que, uma vez dono do Twitter, a rede social seja o paraíso da disseminação de fake news e discurso de ódio, em nome da "liberdade de expressão".
Espera-se, por exemplo, que a conta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seja reativada. O ex-mandatário foi banido da plataforma em janeiro de 2021 por incitar a violência e, sistematicamente, divulgar fake news. Bolsonaro, por sua vez, já recebeu punições da rede social por motivos parecidos.
Por inúmeras vezes Elon Musk demonstrou seu perfil autoritário. A mais notória delas foi quando admitiu, em junho de 2020, que "vai dar golpes em quem for necessário" para conseguir lítio ao comentar sobre a derrubada de Evo Morales na Bolívia. Desde o episódio, Morales tem apontado que existiam interesses internacionais nos recursos bolivianos.
"Nós vamos dar golpes em quem nós quisermos! Lide com isso", afirmou o bilionário ao ser questionado nas redes sobre o seu papel no golpe orquestrado na Bolívia em outubro de 2019 em razão das reservas de lítio presentes no país. Para desenvolver os carros elétricos, o mineral é fundamental, afinal as baterias desses veículos são de lítio.
Morales comentou sobre a declaração e disse que ela comprova o que já vinha dizendo. "Elon Musk, dono da maior fábrica de carros elétricos, fala sobre o golpe na Bolívia: 'Vamos dar golpes em quem quisermos'. Outra prova de que o golpe foi devido ao lítio boliviano; e dois massacres como saldo. Sempre defenderemos nossos recursos!", escreveu no Twitter.
A transação contestada
A transação final para a compra do Twitter por Elon Musk saiu por US$ 44 bilhões (quase R$ 215 bilhões no câmbio atual).
Desde que o magnata dono da Tesla e da SpaceX anunciou seu intuito de adquirir a plataforma, parte dos membros do conselho de administração do Twitter tentou de tudo para impedir a venda, inclusive acionando a tal estratégia chamada no mundo dos negócios de “pílula de veneno”, que consiste em permitir aos acionistas minoritários comprarem mais ações com desconto nos preços, fazendo o valor do restante das ações disparar, o que tornaria a compra total por alguém de fora mais difícil.
Quando Musk já tinha 9% das ações do Twitter e demonstrou intenção de abocanhar mais uma fração, para chegar pelo menos a 15%, para na sequência comprar tudo, o conselho de administração do Twitter informou por meio de uma nota, emitida a partir da sede da rede social, na Califórnia, nos EUA, dizendo que "a pílula de veneno reduziria a probabilidade de qualquer entidade, pessoa ou grupo obter o controle do Twitter por meio da acumulação de mercado aberto sem pagar a todos os acionistas um prêmio de controle adequado ou dar ao conselho de administração tempo suficiente para tomar decisões informadas". No entanto, isso não foi o suficiente para domar a sanha do bilionário.