O presidente Jair Bolsonaro (PL) não demorou para celebrar a venda de 100% das ações do Twitter ao bilionário sul-africano naturalizado estadunidense Elon Musk. Através da própria rede social, o chefe do Executivo brasileiro compartilhou uma postagem de Musk em que fala de "liberdade de expressão".
"Espero que até meus piores críticos permaneçam no Twitter, porque é isso que significa liberdade de expressão", diz a publicação do magnata dono da Tesla divulgada por Bolsonaro. O filho "03" do presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também adorou a notícia e compartilhou a mesma postagem.
Te podría interesar
Fabio Faria, ministro das Comunicações do governo Bolsonaro e que já se reuniu com Musk, por sua vez, celebrou da seguinte maneira: "Congratulations [congratulações, ou "parabéns", em inglês], Elon Musk! Mais uma vez você está a dois passos na frente dos outros players e agora faz um gesto ao mundo e em defesa da liberdade!".
Paraíso da extrema direita?
A comemoração dos bolsonaristas não é à toa. Elon Musk flerta com a extrema direita global e a expectativa é que, uma vez dono do Twitter, a rede social seja o paraíso da disseminação de fake news e discurso de ódio, em nome da "liberdade de expressão".
Te podría interesar
Espera-se, por exemplo, que a conta do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, seja reativada. O ex-mandatário foi banido da plataforma em janeiro de 2021 por incitar a violência e, sistematicamente, divulgar fake news. Bolsonaro, por sua vez, já recebeu punições da rede social por motivos parecidos.
Por inúmeras vezes Elon Musk demonstrou seu perfil autoritário. A mais notória delas foi quando admitiu, em junho de 2020, que "vai dar golpes em quem for necessário" para conseguir lítio ao comentar sobre a derrubada de Evo Morales na Bolívia. Desde o episódio, Morales tem apontado que existiam interesses internacionais nos recursos bolivianos.
"Nós vamos dar golpes em quem nós quisermos! Lide com isso", afirmou o bilionário ao ser questionado nas redes sobre o seu papel no golpe orquestrado na Bolívia em outubro de 2019 em razão das reservas de lítio presentes no país. Para desenvolver os carros elétricos, o mineral é fundamental, afinal as baterias desses veículos são de lítio.
Morales comentou sobre a declaração e disse que ela comprova o que já vinha dizendo. "Elon Musk, dono da maior fábrica de carros elétricos, fala sobre o golpe na Bolívia: 'Vamos dar golpes em quem quisermos'. Outra prova de que o golpe foi devido ao lítio boliviano; e dois massacres como saldo. Sempre defenderemos nossos recursos!", escreveu no Twitter.
Em entrevista à Fórum, em abril de 2020, Morales classificou o episódio ocorrido em novembro de 2019 na Bolívia como “um golpe ao índio, ao modelo econômico e um golpe ao lítio”. Sobre o minério, eles explicou que a Bolívia tem "as maiores reservas de lítio do mundo, maiores que as do Chile e da Argentina, e tínhamos um projeto de industrialização do lítio por conta própria, e os Estados Unidos não perdoaram essa nossa política".
A transação contestada
A transação final para a compra do Twitter por Elon Musk saiu por US$ 44 bilhões (quase R$ 215 bilhões no câmbio atual).
Desde que o magnata dono da Tesla e da SpaceX anunciou seu intuito de adquirir a plataforma, parte dos membros do conselho de administração do Twitter tentou de tudo para impedir a venda, inclusive acionando a tal estratégia chamada no mundo dos negócios de “pílula de veneno”, que consiste em permitir aos acionistas minoritários comprarem mais ações com desconto nos preços, fazendo o valor do restante das ações disparar, o que tornaria a compra total por alguém de fora mais difícil.
Quando Musk já tinha 9% das ações do Twitter e demonstrou intenção de abocanhar mais uma fração, para chegar pelo menos a 15%, para na sequência comprar tudo, o conselho de administração do Twitter informou por meio de uma nota, emitida a partir da sede da rede social, na Califórnia, nos EUA, dizendo que "a pílula de veneno reduziria a probabilidade de qualquer entidade, pessoa ou grupo obter o controle do Twitter por meio da acumulação de mercado aberto sem pagar a todos os acionistas um prêmio de controle adequado ou dar ao conselho de administração tempo suficiente para tomar decisões informadas". No entanto, isso não foi o suficiente para domar a sanha do bilionário.