O filme "Como se Tornar o Pior Aluno da Escola", roteirizado por Danilo Gentili e com atuação do humorista Fabio Porchat, entrou na mira de bolsonaristas cinco anos após o seu lançamento. O longa, disponível na Netflix, tem sido acusado de promover a pedofilia devido a uma cena em que o personagem de Porchat tenta abusar dos protagonistas, dois adolescentes.
Na cena, o adulto sugere que as crianças "parem de brigar" e diz que o que aconteceu entre eles pode ser esquecido se eles "baterem uma punheta para o tio". "É super normal, vocês tem que abrir a cabeça de vocês. Uma juventude retrógrada", afirma.
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As críticas ao longa começaram após o deputado bolsonarista André Fernandes (PL) publicar um vídeo revoltado em suas redes sociais mostrando o trecho do filme e dizer que, por causa da classificação indicativa de 14 anos, naturalizava a pedofilia e chamava crianças que não aceitassem o abuso do adulto de "retrógradas".
"Às vezes é duro de assistir", diz Porchat
Em mensagem ao O Globo, Porchat respondeu as críticas. "Como funciona um filme de ficção? Alguém escreve um roteiro e pessoas são contratadas para atuarem nesse filme. Geralmente o filme tem o mocinho e o vilão. O vilão é um personagem mau. Que faz coisas horríveis. O vilão pode ser um nazista, um racista, um pedófilo, um agressor, pode matar e torturar pessoas...", iniciou o humorista.
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Ele deu exemplos como Marlon Brando em "O Poderoso Chefão" e Renata Sorah em "Senhora do Destino". "O Marlon Brando interpretou o papel de um mafioso italiano que mandava assassinar pessoas. A Renata Sorah roubou uma criança da maternidade e empurrava pessoas da escada. A Regiane Alves maltratava idosos. Mas era tudo mentira, tá gente? Essas pessoas na vida real não são assim", disse Porchat.
"Temas super pesados são retratados o tempo todo no audiovisual. E às vezes ganham prêmios! Jackie Earle Haley concorreu ao Oscar em 2007 interpretando um pedófilo no excelente filme 'Pecados Íntimos'. Só que quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade.
Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante. Agora, imagina se por conta disso não pudéssemos mais mostrar nas telas cenas fortes como tráfico de drogas e assassinatos? Não teríamos o excepcional 'Cidade de Deus'? Ou tráfico de crianças em 'Central do Brasil'? Ou a hipocrisia humana em O Auto da Compadecida. Mas ainda bem que é ficção, né? Tudo mentirinha", escreveu o ator.
Ministros se envolvem na polêmica
A acusação de incitação à pedofilia chegou à ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que prometeu abrir uma investigação. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, também disse neste domingo (13) que vai determinar “imediatamente” que a pasta adote providências contra o filme.
"Como se Tornar o Pior Aluno da Escola" é baseado no livro de mesmo nome de Danilo Gentili, publicado em 2009. O longa aborda temas com objetivo de fazer críticas ao politicamente correto. Secretário especial da Cultura, Mario Frias também foi às redes sociais alertar sobre o filme e falar mal de Fabio Porchat.
“Por diversas vezes Porchat afirmou que não quer ser pai, chegou a dizer que ‘é um inferno ter filhos’, lamento, discordo, afinal, não existe algo mais sublime e grandioso do que a paternidade. O Porchat jamais vai entender q o maior crescimento de um homem vem com a paternidade. Se ele rejeita a paternidade é um direito dele, mas ele não tem o direito de desrespeitar a educação que foi dada aos filhos dos outros”, disse Frias.
Sem se estender muito, Gentili afirmou que tem "orgulho de desagradar com a mesma intensidade petistas e bolsonaristas". "Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento: veio forte contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo", escreveu o humorista.