O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que está foragido da Justiça brasileira nos Estados Unidos, segue desafiando o Supremo Tribunal Federal (STF). Nesta sexta-feira (25), o investigado no inquérito das milícias digitais enviou um áudio em um de seus canais ainda ativos no Telegram disparando ofensas contra o ministro Alexandre de Moraes.
Isso porque, horas antes do detrator enviar o áudio, Moraes deu um prazo de 24 horas para o aplicativo Telegram banir canais associados ao bolsonarista. Allan dos Santos os utiliza para destilar fake news, atacar o STF e organizar seus seguidores nas campanhas de ódio, já que foi banido de mídias sociais, como YouTube, Instagram e Facebook, por usar do mesmo expediente.
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Ele constantemente cria novas contas e canais para se comunicar, desrespeitando decisões judiciais que o restringem. Há, inclusive, um mandato de prisão contra o blogueiro, expedido a mando de Moraes em outubro do ano passado, mas ele segue foragido.
“Alexandre de Moraes, se você derrubar esse canal, eu crio outro, crio outro e crio outro. Enfia o dedo no c* e rasga. Não vou apagar porr* nenhuma”, dispara Allan dos Santos no áudio, divulgado justamente em um dos canais do Telegram que é alvo do ministro do STF.
No despacho em que solicitou ao Telegram a suspensão dos canais de Allan dos Santos, Moraes avisou que, se a determinação não for cumprida, o aplicativo será bloqueado no Brasil.
"A utilização de vários perfis, criados com a intenção de se esquivar dos bloqueios determinados, tem sido prática recorrente de Allan Lopes dos Santos para a continuidade da prática delitiva, comportamento que deve ser restringido", escreveu o ministro.
"Telegram é barbárie completa"
O pesquisador Felipe Pena, professor de Comunicação da UFF e coordenador de uma pesquisa sobre fake news na universidade, defendeu a suspensão do aplicativo Telegram no Brasil durante participação recente no Jornal da Fórum. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cogita a suspensão da rede após não conseguir contato com os responsáveis da plataforma, que não possui sede no Brasil.
O pesquisador disse ao jornalista Miguel do Rosário, no Jornal da Fórum, que o grupo de pesquisa de teoria do jornalismo da Intercom/UFF, no qual ele coordena, analisa 100 grupos bolsonaristas de Telegram e de WhatsApp (80x20). O objetivo é mapear as notícias falsas que são elaboradas nesse ambiente sem controle e identificar a percepção das pessoas diante das narrativas mirabolantes gestadas pela base de apoio do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Pena, há uma migração do WhatsApp pro Telegram, em razão do controle que a rede social estadunidense tem imposto. "O grande problema do Telegram é que não tem escritório no Brasil, é uma terra sem lei mesmo. Isso que o Barroso fez é um pré-aviso. Tenta contato, mas não consegue", explicou Pena.
"Eu sou favorável sim à suspensão. Não tem escritório no Brasil para responder? Tem que fechar. Senão vira terra sem lei. O Telegram é uma barbárie completa. As pré-conclusões nas nossas pesquisas são as piores possíveis", completou.
"O Telegram é russo e a Rússia chegou a suspendê-lo por 2 anos para que ele agisse de forma a responder por seus atos no país. Outros 9 países já fizeram isso, o Brasil não seria o primeiro", acrescentou.
Pena destacou que a circulação das fake news é extensa nos grupos bolsonaristas. "Eu diria que de cada 10 fatos que são narrados pelas hostes bolsonaristas, 9,5 são notícias falsas bombásticas, elaboradas", afirmou. "A aposta toda do Bolsonaro é nos grupos de Telegram", pontuou.