A ação terrorista de colocar uma bomba caseira junto a um caminhão-tanque em Brasília no último sábado (24) segue sendo investigada e já há ao menos 6 suspeitos de envolvimento com o caso. A primeira prisão ocorreu no mesmo dia do ataque frustrado: o bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa confessou ter fabricado o artefato e entregou um cúmplice, Alan Diego dos Santos Rodrigues, a quem teria entregue a emulsão explosiva. Foragido, a Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) acredita que Alan não esteja mais em Brasília.
Alan Rodrigues tem 32 anos, é de Comodoro (MT) e foi candidato a vereador pelo PSD em 2016, mas não foi eleito. Nesta terça (27) o partido decidiu expulsá-lo da legenda. "Diante das informações recebidas, o PSD decidiu pela expulsão de Alan Diego como filiado. Os fatos imputados a ele, conforme veiculado pela imprensa, são graves e inaceitáveis, se constituem crimes e precisam ser punidos com o rigor da lei. Manifestações antidemocráticas precisam ser rechaçadas. O PSD é um instrumento para a realização do processo político fiel ao princípio democrático e ao regime republicano, jamais aceitando ou relevando manifestações que atentem contra o Estado Democrático de Direito", afirmou a uma reportagem do UOL o senador Carlos Fávaro (PSD-MT), presidente do PSD no Estado. Ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alan declarou um patrimônio de R$ 203 mil em 2016.
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Redes sociais de Alan
A região de Comodoro é um reduto bolsonarista na divisa com Rondônia. Sua conta do Facebook teve postagem de foto pela última vez em 8 de abril de 2020, mas há informações mais recentes, pois nas informações registradas na rede social, Alan informa como local de trabalho na empresa Grupo Bom Futuro "desde o dia 21 de julho de 2022 até o presente". De acordo com o site institucional da empresa, é um empreendimento advindo da agricultura e que hoje atua em 7 áreas; agricultura, pecuária, piscicultura, sementes, energia, aeroportuário e imobiliário. Seu perfil também informa que Alan é casado desde junho de 2016 e a última postagem, de abril de 2020, é a atualização de "capa" do seu perfil na rede social, onde colocou a foto de um casal de crianças pequenas.
Já no Instagram, sua primeira postagem é do dia 10 de setembro de 2022 e ele aparece uniformizado ao lado de outro homem. Pode-se ler "Astax" na indumentária. Trata-se de um aplicativo local de taxistas da cidade de Comodoro (MT). No mesmo dia, postou outra foto com o uniforme, desta vez sozinho.
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"Cara de boa"
Alan Diego trabalhou por cerca de um ano como taxista na cidade de Comodoro. Seu ex-colega de trabalho Silvan Messiaro, que é motorista de táxi, contou que Alan pareceu uma pessoa tranquila, mas que “vai muito pela 'pilha' dos outros”. Na sua avaliação, "ele é um cara de boa. O problema é que vai muito pela 'pilha' dos outros (...) Só se foi no meio desse povo aí que colocaram ele no meio disso", disse Silvan à coluna.
A postagem seguinte no Instagram foi feita mais de 2 meses depois das duas primeiras, no dia 24 de novembro. Trata-se de um vídeo gravado no acampamento bolsonarista em frente ao Quartel General do Exército em Brasília (DF). Daí se seguem diversas fotos e vídeos participando de atividades em Brasília junto a outros bolsonaristas, sobretudo no Palácio da Alvorada, em datas diversas, e fotos com parlamentares bolsonaristas, como o deputado federal Hélio Negão (PL-RJ), o senador eleito Magno Malta (PL-ES), o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o deputado federal eleito Zé Trovão (PL-SC).
Senado
Há também vídeos com trechos da reunião extraordinária da Comissão de Transparência, Fiscalização e Controle (CTFC) do dia 30 de novembro, no Senado Federal, que questionava a eleição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT); um vídeo com o cacique Sererê discursando em local próximo ao Ministério da Defesa, gravado e postado no dia 1º de dezembro e diversas postagens registrando os indígenas bolsonaristas que fizeram um ato no aeroporto de Brasília no dia 02 de dezembro.
A última postagem foi feita no dia 20 de dezembro. É um vídeo com 7m30s de duração, gravado ao vivo, com a legenda "Palácio da Alvorada" em que aparecem alguns agentes das forças armadas e um conjunto de dragões da república. Ao fundo, ouve-se o padre puxando um pai-nosso e informando que o presidente está chorando, "esta em prantos", diz a voz ao fundo no vídeo.
Divergência
No depoimento de George Washington à polícia, ele afirma que o plano discutido com outros manifestantes do acampamento bolsonarista era explodir uma bomba no aeroporto e fazer uma denúncia anônima dizendo que outros dois artefatos estariam armados na área de embarque. Entretanto, por sugestão de uma mulher não identificada por Sousa, ele defendia que a bomba fosse instalada em postes de energia elétrica próximos a uma subestação de eletricidade em Taguatinga, a fim de derrubar a energia do boa parte do Distrito Federal. Entretanto, era preciso definir quem levaria o artefato e Alan Rodrigues se voluntariou.
"Ao contrário da mulher, um homem chamado Alan que eu já tinha visto algumas vezes no acampamento se mostrou mais disposto e se voluntariou para instalar a bomba nos postes [...] que ficam próximos à subestação de Taguatinga, já que era mais fácil derrubar os postes do que explodir a subestação como foi pensado originalmente", diz um trecho do depoimento. Conforme já divulgado, George Washington Sousa afirma ter entregado o explosivo para Alan no dia 23 de dezembro e que soube pela TV onde a bomba havia sido instalada afinal.