TERRORISMO

Bomba em Brasília autorizaria "estado de sítio"? Veja depoimento do terrorista

Estimulado por falas golpistas no acampamento em frente ao QG de Brasília, terrorista que fez a bomba tinha uma estratégia em mente

Créditos: Divulgação / PCDF
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George Washington de Oliveira Sousa, preso nesse sábado (24) pela tentativa de levar um caminhão repleto de querosene pelos ares em via pública próxima ao aeroporto de Brasília, explicou o que motivou sua atitude em depoimento à polícia neste domingo (25). De acordo com o depoimento, obtido e revelado pelo jornal Folha de S. Paulo, uma estratégia traçada por um grupo de bolsonaristas que estavam no acampamento instalado em frente ao Quartel General (QG) de Brasília orientou a ação do terrorista, que não agiu sozinho. 

Após afirmar que trabalha como gerente de um posto de gasolina em Xinguá (PA), ele contou como conseguiu o material para fabricar o artefato. "Eu disse aos manifestantes que tinha a dinamite, mas precisava da espoleta e do detonar para fabricar a bomba", relatou. Em seguida, disse que na sexta (23), por volta das 11h30, um manifestante desconhecido que estava acampado no QG entregou a ele um controle remoto e quatro acionadores, possibilitando a fabricação artesanal do explosivo de forma que pudesse ser acionado a uma distância entre 50 e 60 metros.

Plano frustrado

Sousa disse que entregou a bomba a uma pessoa chamada Alan, orientando que fosse instalada em um poste para a interrupção do fornecimento de eletricidade. De acordo com seu depoimento, o terrorista que fabricou a bomba não teria concordado com a ideia de explodi-la no estacionamento do aeroporto.

O próprio motorista do caminhão foi quem encontrou o artefato que, segundo a polícia, só não explodiu por uma falha técnica na operação do detonador. O trabalhador então acionou a Polícia Militar, que mobilizou o esquadrão antibombas para desativar a bomba. O corpo de bombeiros também contribuiu com a ação.  

Forças de segurança

O terrorista disse ainda que conversou com PMs na data dos primeiros ataques terroristas à capital federal, em 12 de outubro, e que avaliou que os agentes da segurança pública estavam ao lado do ainda presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele acreditava que em breve seria decretada uma "intervenção" das Forças Armadas. "Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das forças armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil", disse o gerente de posto de gasolina.

A ideia original, entretanto, era um pouco diferente. “Uma mulher desconhecida sugeriu aos manifestantes do QG que fosse instalada uma bomba na subestação de energia em Taguatinga para provocar a falta de eletricidade e dar início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”, disse George Washington no depoimento.

Plano Frágil

O plano, entretanto, além de ter natureza terrorista, não possui muito respaldo na legislação. De acordo com o artigo 137 a Constituição Federal, o Estado de Sítio pode ser acionado em três hipóteses, com aplicações diferentes: Comoção grave de repercussão nacional (inciso I, primeira parte); Fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o Estado de Defesa (inciso I, parte final); Declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira (inciso II).

Decretado pelo Presidente da República, após ouvir os Conselhos da República e o Conselho da Defesa e, necessariamente, com autorização do Congresso Nacional. Dessa forma, mesmo que o plano terrorista prosperasse e o presidente Bolsonaro decidisse apresentar um Decreto nesse sentido, o Congresso poderia impedir sua entrada em vigor. Além disso, caso a justificativa apresentada não se encaixasse nos itens previstos na Constituição, o Supremo Tribunal Federal (STF) também poderia se pronunciar.

Arsenal

No apartamento onde foi preso, foi encontrado um poderoso arsenal. A este respeito, o terrorista contou que desde outubro do ano passado, quando obteve licença como CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador), já teria gastado cerca de R$ 160 mil na compra de pistolas, revólveres, fuzis, carabinas e munições.