Um professor que sobreviveu aos horrores do ataque a tiros na Escola Estadual Ensino Fundamental e Médio (EEEFM) Primo Bitti, em Aracruz (ES), em 25 de novembro, que deixou quatro mortos e 12 feridos, deu uma entrevista aterrorizante ao portal g1, falando sobre a dinâmica dos fatos naquela manhã em que um adolescente de 16 anos, filho de um oficial da PM, entrou armado com uma pistola e um revólver e saiu disparando aleatoriamente no local.
Luiz Carlos Simora Gomes, de 51 anos, leciona Filosofia e contou ao g1 que naquele dia a unidade escolar estava vazia, já que na quinta-feira (24), um dia antes do massacre, as turmas foram para um passeio e a grade do dia seguinte consistia apenas em algumas palestras e atividades sobre empreendedorismo. Gomes explicou como tudo começou e a impressão que teve ao ouvir os primeiros estampidos.
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“Coloquei o notebook na mesa e tinha um rocambole compartilhado. Eu peguei um pedaço e ofereci às professoras. Sandra e Cybelle aceitaram. A gente estava brincando. Em seguida, fui ao banheiro lavar as mãos e, quando estava saindo, escuto o barulho. Achei que fosse uma brincadeira dos alunos, uma bombinha, algo assim. Quando saí, vi o mascarado”, contou o docente.
Em meio ao desespero das vítimas, o professor de Filosofia contou que chegou a se “armar” com uma vassoura, para atacar o assassino, mas que a habilidade com que ele manuseava a pistola, sobretudo na hora de recarregá-la, o fez desistir da ideia.
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“Peguei uma vassoura para tentar dar uma vassourada nele, mas ele trocou o pente (o carregador de munições) da arma muito rápido e deu um tiro, que acertou a Maria da Penha, e mais dois, que quase me acertaram”, relatou Gomes.
O educador perambulou pelas dependências da escola para ver qual rumo tinha tomado o criminoso, mas os barulhos dos disparos seguiam. Ao retornar à sala dos professores ele teve, então, a real dimensão do que estava acontecendo e resolveu pedir socorro.
“Ainda escutei alguns barulhos de tiros, e quando voltei, vi aquela cena de terror. Eu liguei para o 190, mas não atendeu. Como faço parte de um grupo, liguei direto para o tenente Farias. Quando saí da sala dos professores novamente, vi os estudantes desesperados, tentando pular o muro da escola por causa dos tiros. Voltei para a sala onde estavam meus amigos e fiquei até o socorro chegar”, lembrou.
A parte mais traumática para o professor foi a cena das colegas de trabalho gravemente feridas. Ele diz que a cena ainda tira seu sono e que não consegue esquecer de uma das professoras dizendo que não queria morrer.
“A Maria da Penha ainda permaneceu viva por cerca de seis minutos. Eu perguntei se ela estava me escutando, e ela apertou a minha mão. Depois, foi enfraquecendo... Já a Flávia, ela era um poço de amor. Ela foi baleada, e estava nas pernas de outra professora, lúcida. Flávia falava 'eu tô bem, ajuda a Cybelle, ajuda a Regina'... Mas depois ela começou a gritar dizendo que não estava sentindo o corpo e não queria morrer. Esses gritos não saem da minha cabeça", contou emocionado o professor.