RAPOSA NO GALINHEIRO

Funai é alvo de operação da PF contra desmatamento

Polícia Federal procura indícios de envolvimento de integrantes do governo Bolsonaro em desmatamento e grilagem de terras de indígenas isolados

Terra Indígena Ituna-ItatáCréditos: Pok Rie / Pexels
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A sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi tomada por policiais federais nesta quarta (14). Os agentes cumprem mandado de busca e apreensão no combate ao desmatamento e grilagem na Terra Indígena Ituna-Itatá, localizada nos municípios de Altamira e Senador José Porfírio, no sudeste do Pará. Desencadeada em cinco unidades da federação, a operação "Avarus", da Polícia Federal (PF), Ibama e Ministério Público Federal (MPF), cumpre 16 mandados em diferentes endereços, incluindo o da casa do responsável pela Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados (CGIIRC) do governo federal, Geovanio Oitaiã Pantoja, conhecido como Geovanio Katukina.

O servidor de alto escalão da Funai é investigado por atuado contra portaria, existente desde 2011, que proíbe o acesso às áreas de pessoas sem autorização pela CGIIRC, com a intenção de facilitar grilagem na terra indígena, uma das mais invadidas e desmatadas do Brasil. Ele também é acusado por indigenistas de ter ignorado evidências coletadas em campo sobre a provável existência de um grupo ainda não contactado dentro da terra indígena Ituna-Itatá, no sul do Pará, deixando em risco a proteção da área.

Operação Avarus

No prédio da Funai, foram apreendidos documentos e equipamentos tecnológicos, como computadores, telefones celulares e pen drives, no andar onde fica a diretoria de proteção territorial da fundação. No Pará, os policiais atuam retirando invasores e maquinários utilizados pelos criminosos e incendeiam alojamentos clandestinos na Terra Indígena Ituna-Itatá. Mobilizando 70 agentes, a operação cumpre 10 mandados em Altamira (PA), 3 no Distrito Federal, um no Tocantins, um na Bahia e um em Minas Gerais. A operação também busca reprimir os crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Os crimes investigados podem desembocar em penas que ultrapassam 20 anos de prisão.

As informações fornecidas pela Polícia Federal são de que houve uma prisão em flagrante em Altamira, porque um dos suspeitos armazenava pornografia infantil em seu telefone celular. Além disso, também no Pará foram apreendidas duas armas. A Funai alega que não comenta investigações em curso, mas publicou uma nota, na qual reitera que "tem sua atuação pautada na legalidade, segurança jurídica e promoção da autonomia dos indígenas". O coordenador geral de índios isolados do órgão não se manifestou.

Desmatamento e grilagem

Dados da PF informam que "boa parte do desmatamento (na Terra Indígena Ituna-Itatá) é resultado da extração de ouro, feita com máquinas pesadas como balsas, dragas, pás carregadeiras e escavadeiras hidráulicas, equipamentos que deixam rastro de destruição". O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou, entre 2018 e 2019, que a Terra Indígena Ituna-Itatá teve 119,92 km² desmatados, figurando como a terra de indígenas isolados mais grilada do Brasil. Ainda, de acordo com relatório da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira e da Organização dos Povos Isolados, 84,5% do desmatamento realizado no sudoeste do Pará ocorreu entre 2019 e 2021, durante o governo Bolsonaro.