CYNARA MENEZES
Os maiores músicos, escritores e pintores da História eram antifascistas. Fato. A extrema direita sempre foi combatida pelos artistas e até por isso nunca foi amiga das artes. Pelo contrário, despreza e persegue a cultura. Quantos artistas brasileiros não foram atacados pelo bolsonarismo com a falácia da Lei Rouanet e fake news pesadas?
Volta e meia, porém, aparece a exceção que confirma a regra. Lucimary Bilhardt é uma artista plástica aficionada (obcecada?) por Jair Bolsonaro. E cria obras que divulga em seu perfil no instagram homenageando o "mito" e supostamente zombando dos esquerdistas. Bolsonaro adora e chegou a exibir uma obra dela numa live em 2022.
Só que o efeito tem sido o oposto: as pinturas de Lucimary, mesmo as contra a esquerda, são hilárias. A imaginação fértil da bolsonarista se supera quando mistura os políticos brasileiros da atualidade com elementos da natureza, como por exemplo, pererecas. Surreal. E o mais genial é que a artista não fez nada disso sob efeito de substâncias. A turma do "Deus, pátria e família" não faz essas coisas...
Outra obsessão de Lucimary é mostrar mulheres de esquerda como bruxas, cobras e vampiras. Por "mulheres de esquerda" entenda-se qualquer uma não-bolsonarista, como a jornalista Miriam Leitão e a senadora Soraya Thronicke.
Alguns quadros "contra a esquerda" soam lisonjeiros para os personagens. Duvido que Marina Silva e Greta Thunberg tenham se sentido ofendidas por terem sido retratadas como fadas.
O ministro do STF, Alexandre de Moraes, aparece de forma recorrente nas pinturas feitas digitalmente pela artista. Em uma delas, Xandão é um sapinho montado no presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, da Câmara, Arthur Lira, e de Lula. Quantas camadas em uma pintura, hein? Ou seria melhor dizer risadas?
Moraes aparece também como vampiro ao lado do bilionário Elon Musk e com a lua cheia ao fundo... Pálido como cera, o fascista Musk aparenta ser mais vampiresco do que Xandão.
Na mesma pegada Halloween, Lula está no caixão com uma pessoa nas mãos (Gleisi?) e ladeado por Moraes, Marisa Letícia, Carmen Lúcia e Barroso com um olhar expressivo.
Lucimary abusa do mistério a ponto de seus próprios seguidores ficarem atônitos: quem afinal é a figura que a mão comunista está usando como fantoche? Ninguém sabe.
Em outra pintura, Gilmar Mendes é uma lesma observando Moraes e sendo observado por Luis Roberto Barroso e Toffoli, enquanto Lula, um diabinho Zé Pelintra, pisca o olho. Quanto talento!
Algumas vezes Lucimary, como toda bolsonarista, é contraditória: em uma pintura mostra Bolsonaro e Tarcísio de Freitas como centuriões romanos...
...e noutras os centuriões são Lula, Pacheco e Lira (que é bolsonarista), simbolizando os algozes de Jesus. Ou seja, quando estão do lado dela, os centuriões são heróis; quando são "de esquerda", maus. Poxa, Lucimary.
Mas é quando retrata seu ídolo que a artista reaça se supera, como nessa composição de Bolsonaro, o Congresso Nacional, uma pomba (águia?) e... um urubu.
Em outra pintura, Bolsonaro está pensativo ao lado de uma cachoeira, enquanto uma tartaruga passa à sua frente com uma bandeira do Brasil, trazendo às costas uma perereca com uma lesma e uma borboleta montada nela. Quantos significados ocultos pode ter um quadro? Só um crítico de arte para decifrar.
Na imaginação de Lucimary, Bolsonaro é o soldado solitário de olhar meigo (ela capricha no azul) enquanto o mundo explode... Sendo que na vida real quem está explodindo bomba é o Netanyahu, amigo dele.
A minha favorita é esta: uma pintura onde Donald Trump e Bolsonaro são retratados como águias. Teria o "mito" ficado orgulhoso de ser retratado assim?
Ninguém entendeu a referência e a artista foi obrigada a se explicar. Justo quando Bolsonaro tinha ficado mais fofo...
Por favor, Lucimary, continue.