A Cannabis pode ajudar no combate à dengue, zika e outras doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Foi o que mostrou uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Morfotecnologia, do Centro de Biociências da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e publicada recentemente na revista científica Atena Editora.
Segundo os resultados da primeira fase da pesquisa, coordenada pela enfermeira e pesquisadora Suelice Guedes da Silva Brito com orientação da professora Sônia Pereira Leite, o extrato bruto da Cannabis sativa, a planta da maconha, provoca alterações nos embriões do Aedes aegypti, o que impede o desenvolvimento da larva do mosquito e, consequentemente, faz com que hajam menos transmissores da dengue.
Te podría interesar
Como foi realizado o estudo
O estudo foi feito em parceria com a Aliança Medicinal, uma organização não-governamental de Olinda (PE) que é autorizada pela Justiça a cultivar e comercializar a Cannabis sativa. Foi a ONG que forneceu o material necessário para que a pesquisa da UFPE fosse realizada.
As larvas do mosquito foram colocadas em contato com o extrato bruto da planta, rico em tetrahidrocanabinol (THC). O THC, junto com o canabidiol (CBD), é uma substância química encontrada na Cannabis sativa e, no caso deste estudo, contribuiu para os resultados positivos.
Te podría interesar
Depois de três dias do contato, a membrana peritrófica, que protege o intestino das larvas, se rompeu, o que impediu que o desenvolvimento continuasse a ocorrer e, logo, que a larva se tornasse um mosquito.
Apesar deste ser um resultado inicial, o fato foi considerado “promissor, sugerindo um novo leque de possibilidades do uso da Cannabis” e deve ser mais explorado em ensaios futuros.
“Se as novas etapas da pesquisa confirmarem o que já foi estudado, será muito importante. Vivemos num país tropical, onde as doenças por vírus transmitidos por mosquitos correm à solta, e temos uma planta como a Cannabis, que podemos explorar e descobrir o que ela pode fazer também nessa área”, disse Suelice.
A pesquisadora ainda defendeu o uso da Cannabis na ciência e na medicina.
“Pesquisas como essa envolvendo a cannabis abrem portas e outras possibilidades de estudos com a planta. Devemos divulgar a importância que a cannabis tem em relação ao uso medicinal e explorar outras técnicas e experimentos”, disse, em matéria de divulgação da Aliança Medicinal.
Aumento da dengue no mundo
O estudo realizado na UFPE surge no mesmo momento em que os casos de dengue no mundo aumentam, devido ao aquecimento global.
“Por causa das alterações climáticas, como aumento da temperatura, aumento de chuvas, esse vetor [Aedes aegypti] está se proliferando. E com o aumento do vetor, obviamente, aumentam as doenças transmitidas por ele. E a dengue é o maior problema do planeta”, destacou o infectologista Marcos Caseiro em entrevista à Fórum.
No início de outubro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a dengue se tornará um problema para mais regiões do globo ainda nesta década. Segundo a OMS, apenas nas Américas, a incidência da infecção cresceu de 1,5 milhão de casos acumulados na década de 1980 para 16,2 milhões de 2010 a 2019.