"Os palestinos não acreditavam que a brutalidade sionista chegaria a tal ponto"

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Por Juliana Sada Em 31 de maio quando Israel atacou a Flotilha da Liberdade, Marcelo Buzzeto, integrante do MST, estava na Palestina em contato com as organizações de lá. No relato, ele conta a repercussão do ataque, que surpreendeu até quem convive diariamente com a repressão israelense. Como foi recebida a notícia do ataque às embarcações que traziam ajuda humanitária? Com muita indignação e revolta, pois foi um ataque covarde, realizado contra pacifistas que levavam ajuda humanitária, estavam desarmados, e só se defenderam dos tiros disparados pelos fuzileiros navais israelenses. Imediatamente houve manifestações em toda a Palestina, tanto nas cidades controladas pela Autoridade Palestina na Cisjordânia, onde governa o FATAH, como em Gaza, onde governa o Hamas, e nas cidades controladas política e militarmente por Israel, como Haifa, Tel-Aviv e Jerusalém. Qual era a expectativa que os palestinos tinham em relação à  esta ação humanitária? Já se esperava a retaliação? O risco de retaliação já era esperado. Qualquer ação contra a violência praticada por Israel é uma ação bastante arriscada, pois o Estado de Israel é um Estado terrorista, com um governo nazi-sionista que não respeita os direitos humanos, nem as resoluções da ONU sobre a Questão Palestina, nem os mais elementares princípios do direito internacional humanitário. Mas nos diziam os palestinos que não acreditavam que a brutalidade sionista chegaria a tal ponto de assassinar a sangue frio os internacionalistas membros da missão humanitária. Esperavam dificuldades, como tentativas de bloqueio com os barcos israelenses e tentativa de prisão, mas esse uso de força extrema contra cidadãos de várias nacionalidades, em águas internacionais, realmente surpreendeu a todos. Há esperança de que esse episódio traga alguma mudança à  Palestina? Ou mesmo o fim do cerco? Com certeza. A estupidez e a brutalidade do governo de Israel só fortaleceu o apoio internacional à justa causa do povo palestino e à luta para garantir o fim do cerco militar e econômico à Gaza. Pessoas, movimentos e países do mundo inteiro condenaram Israel, e agora o mundo se levanta a favor do direito do povo palestino de ter seu próprio Estado. O governo do Egito, pressionado pelas massas populares, já abriu a fronteira com Gaza, e mais de 5 mil palestinos já a cruzaram nesses últimos dias. A abertura de fronteira não foi a única reação internacional ao ataque, a maioria dos países condenou duramente a ação israelense, as relações com a Turquia – até então amistosas – estão abaladas e a ONU determinou que se investigasse o ocorrido. Entretanto, analistas crêem que dificilmente Israel sofrerá alguma punição mais severa, dado o apoio que recebe dos Estados Unidos. Ainda assim, muitos países pediram o fim do cerco e os EUA declararam estar procurando “novas formas de lidar com Gaza”. No Brasil, a Câmara de Deputados realizará uma audiência, ainda sem data, sobre o ataque, serão ouvidos a cineasta brasileira Iara Lee, uma das sobreviventes do episódio, e o embaixador de Israel no país, Giora Becker. Ao longo da semana, publicaremos o restante da entrevista com Marcelo Buzzeto.