Uma estratégia que vem ficando evidente nas redes bolsonaristas nas últimas semanas é o reaproveitamento de desinformação e fake news já utilizadas e desmentidas por agências de checagem ou pela mídia comercial. O caso mais rumoroso de uma "fake news reciclada" foi o da cartilha do crack, divulgada impunemente - até agora - pela ex-ministra Damares Alves. Mas não é o único. Os dados colhidos pelo DataFórum apontam que, além deste, outro conteúdo adaptado foi utilizado por apoiadores do presidente.
Apesar da repercussão recente e de novos desmentidos feitos por órgãos como a agência de checagem Aos Fatos, o Portal Terra e até a Revista Veja, a fake news tem mais de 10 anos. Tudo teria começado com um erro da prefeitura de Sorocaba, no interior de São Paulo, então comandada pelo PSDB. Em 2011, a Secretaria da Educação da cidade distribuiu a cartilha aleatoriamente e deixou que o material - que era direcionado a usuários em recuperação e apresentava orientações para redução de danos - caísse nas mãos de crianças.
Uma busca na internet comprova que, em 2016, a então assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica, pastora Damares Alves, incluiu o caso da "cartilha do crack" entre as várias fake news que eram conteúdo central de uma palestra dela na 1ª Igreja Batista em Campo Grande (MS) e que segue disponível no YouTube. Essa palestra, aliás, apresenta vários conteúdos falsos ou distorcidos, como o famoso caso do "kit gay".
Trigo no Nordeste
O empresário bolsonarista Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan, compartilhou nesta semana em seu perfil no Twitter que a primeira colheita de trigo no Ceará ocorreu no governo Bolsonaro. Trata-se de uma adaptação de uma fake news que, no ano passado, afirmava que pela primeira vez o Nordeste teria colhido trigo. Agências de checagem como o Estadão Verifica e o Fato ou Fake do G1 já tinham desmentido a primeira versão da fake news simplesmente mostrando que a Bahia cultiva trigo em escala comercial desde os anos 80.
Para fugir das checagens, então, os bolsonaristas adaptaram a fake news trocando "Nordeste" por "Ceará". Dessa forma, o conteúdo escaparia dos desmentidos e ainda provocaria confusão, já que as matérias de 2021 mostram que no Ceará há, de fato, um projeto experimental de um brasileiro que teve a ideia durante viagem à China.
O conteúdo segue sendo desinformação, pois o projeto de plantio de trigo no Ceará foi realizado em caráter experimental. Por isso, é falso dizer que houve uma colheita, palavra associada à produção em grande escala. Além disso, também é falsa a associação do plantio com a irrigação, já que segundo a Embrapa, o cultivo acontece também no chamado sistema de sequeiro.