CONTRA FAKE

Reciclagem de fake news é nova tática do bolsonarismo nas redes

Monitoramento dos principais influencers do bolsonarismo no Twitter mostra que, além de criar novas mentiras, conteúdos já utilizados no passado estão sendo reformulados para espalhar desinformação

Luciano Hang e Damares Alves, que recentemente "reciclaram" fake news.Créditos: Reprodução/Vídeo Facebook
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Uma estratégia que vem ficando evidente nas redes bolsonaristas nas últimas semanas é o reaproveitamento de desinformação e fake news já utilizadas e desmentidas por agências de checagem ou pela mídia comercial. O caso mais rumoroso de uma "fake news reciclada" foi o da cartilha do crack, divulgada impunemente - até agora - pela ex-ministra Damares Alves. Mas não é o único. Os dados colhidos pelo DataFórum apontam que, além deste, outro conteúdo adaptado foi utilizado por apoiadores do presidente.

Apesar da repercussão recente e de novos desmentidos feitos por órgãos como a agência de checagem Aos Fatos, o Portal Terra e até a Revista Veja, a fake news tem mais de 10 anos. Tudo teria começado com um erro da prefeitura de Sorocaba, no interior de São Paulo, então comandada pelo PSDB. Em 2011, a Secretaria da Educação da cidade distribuiu a cartilha aleatoriamente e deixou que o material - que era direcionado a usuários em recuperação e apresentava orientações para redução de danos - caísse nas mãos de crianças. 

Uma busca na internet comprova que, em 2016, a então assessora jurídica da Frente Parlamentar Evangélica, pastora Damares Alves, incluiu o caso da "cartilha do crack" entre as várias fake news que eram conteúdo central de uma palestra dela na 1ª Igreja Batista em Campo Grande (MS) e que segue disponível no YouTube. Essa palestra, aliás, apresenta vários conteúdos falsos ou distorcidos, como o famoso caso do "kit gay". 

Trigo no Nordeste 

O empresário bolsonarista Luciano Hang, conhecido como Véio da Havan, compartilhou nesta semana em seu perfil no Twitter que a primeira colheita de trigo no Ceará ocorreu no governo Bolsonaro. Trata-se de uma adaptação de uma fake news que, no ano passado, afirmava que pela primeira vez o Nordeste teria colhido trigo. Agências de checagem como o Estadão Verifica e o Fato ou Fake do G1 já tinham desmentido a primeira versão da fake news simplesmente mostrando que a Bahia cultiva trigo em escala comercial desde os anos 80. 

Para fugir das checagens, então, os bolsonaristas adaptaram a fake news trocando "Nordeste" por "Ceará". Dessa forma, o conteúdo escaparia dos desmentidos e ainda provocaria confusão, já que as matérias de 2021 mostram que no Ceará há, de fato, um projeto experimental de um brasileiro que teve a ideia durante viagem à China.

O conteúdo segue sendo desinformação, pois o projeto de plantio de trigo no Ceará foi realizado em caráter experimental. Por isso, é falso dizer que houve uma colheita, palavra associada à produção em grande escala. Além disso, também é falsa a associação do plantio com a irrigação, já que segundo a Embrapa, o cultivo acontece também no chamado sistema de sequeiro.