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Os dois grandes ausentes na viagem de Lula à China: trens e Macau

O governo ignorou o que poderia ser o aspecto mais revolucionário desta viagem: uma parceria entre Brasil e China para trazer trens de alta velocidade para o nosso país.

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Nem tudo são flores na viagem de Lula à China.

Após uma longa conversa com o professor Evandro Menezes de Carvalho, um dos maiores especialistas em China no Brasil, chegamos à conclusão que o balanço da viagem, em termos concretos, foi negativo.

Em primeiro lugar, o governo ignorou o que poderia ser o aspecto mais revolucionário desta viagem: uma parceria entre Brasil e China para trazer trens de alta velocidade para o nosso país.

Não é possível mais fugir dessa questão. A logística de transportes do Brasil está errada, ponto.

Aeroportos, rodoviárias, estradas e vias de alta circulação estão sobrecarregados.

A classe política nacional, e aqui incluo aqueles que formam a base do governo, e o próprio Lula, parece inteiramente descolada dessa realidade, porque, aparentemente, só usa carro para chegar ao aeroporto.

A estrutura urbana das grandes cidades foi montada para aproximar os bairros nobres dos aeroportos. Foi uma coisa natural, quase darwiniana, e poucos parecem perceber isso. A elite brasileira mandou construir vias especiais para aproximar os bairros onde reside dos aeroportos.

Mas o transporte aéreo jamais suportará a carga de passageiros que o Brasil deveria ter, caso os nossos cidadãos pudessem viajar em massa de uma cidade para outra.

É preciso trens.

Houve um momento que os trens pareciam ultrapassados, mas isso mudou radicalmente com o advento das novas tecnologias ferroviárias, que permitem a esse transporte se aproximar, em termos de velocidade, dos aviões. Com a vantagem de oferecer mais estabilidade, conforto, e sobretudo de ser, à diferença de um avião, um transporte de massa. Um trem pode carregar muito mais gente que um avião.

Isso para não falar no transporte de cargas, que hoje é feito no Brasil, e isso é definitivamente irracional, apenas via caminhões.

É caro, é demorado? Sim. Mas será mais demorado ainda se não começarmos nunca.

É muito mais caro deixar o Brasil subdesenvolvido.

E não é possível falar em desenvolvimento, em reindustrialização, em melhorar a qualidade das escolas e universidades, se as pessoas não conseguem circular livremente, se os produtos não podem ser escoados, e se as crianças, jovens e adultos não conseguem chegar a seu destino.

O Brasil precisa de um projeto para conectar todas as suas grandes cidades por linhas de trem de alta velocidade, e mudar a lógica de transporte dentro das regiões metropolitanas, investindo na construção de metrôs e trens de superfície.

Esse é o futuro, e se o Brasil realmente quiser ingressar no mundo desenvolvido, terá que encarar esse desafio de frente.

O governo Lula anunciou que a China irá investir numa fábrica de carros elétricos na Bahia.

Ótimo. O problema é que esses carros se somarão aos veículos convencionais nos monstruosos congestionamentos que devoram anos de vida dos brasileiros. Carro elétrico não oferece solução para esse problema.

Há trens de alta velocidade que estão sendo testados na China, que alcançam velocidade superior a 600 km por hora, o que é similar a de aviões de médio porte. A média de velocidade dos trens chineses já é superior a 300 km por hora.

A distância dentre Pequim e Xangai é de 1.214 km, maior que entre Rio de Janeiro e Brasília (1.165 km), ou entre São Paulo e Brasília (1.000 km).

Uma viagem de Pequim a Xangai, por trem, é feita em 4 horas e trinta minutos. Uma viagem de ônibus ou carro entre São Paulo e Brasília dura 13 horas.

É óbvio que a construção de um sistema de trens de alta velocidade conectando as capitais brasileiras produziria uma grande revolução econômica, cultural e, consequentemente, também política no país.

Outro ausente da viagem de Lula foi um projeto para Macau.

A China tem uma região que fala português, Macau. Que está ao lado de Hong Kong, a 4 minutos de avião e pouco mais de uma hora de carro, que por sua vez está perto de Shenzen, que é um dos grandes centros tecnológicos do país.

Macau está ao lado ainda de uma região administrativa especial, Zhuhai, que o governo chinês separou justamente para fortalecer seus laços com a América Latina.

Ou seja, é lógico que o Brasil precisa desenvolver uma estratégia especial para Macau e Zhuhai, que podem ser a porta de entrada da cultura brasileira no país.

Enfim, essa foi a primeira viagem de Lula a China. Que venham outras.

E que os brasileiros realmente interessados em estratégias concretas, objetivas, urgentes, para o desenvolvimento do Brasil, e não apenas em "estudar o desenvolvimento", olhem para a questão dos transportes com mais atenção.