MÍDIA ACRÍTICA

A Globo abraçou o dinizismo

Neymar perdeu o posto de garoto propaganda da seleção brasileira. O que se vê agora é louvação total ao novo treinador, que, embora sem currículo é tratado como um revolucionário do futebol

Fernando Diniz comanda a seleção em Lima.Treinador considera que a seleção teve méritos na vitória sobre o PeruCréditos: CBF/Vitor Silva
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"O Dinizismo é meu e ninguém chega perto", parece ser o lema da TV Globo e do Sportv em relação à nova fase da seleção brasileira. Fernando Diniz não é tratado como um interino com currículo sem brilho e sim como um revolucionário capaz de nos livrar de todo o mal deixado por Tite. O interessante é que a Globo também incensou Tite, o tratou como um super herói ético suas frases típicas de coach eram entendidas como ensinamentos indiscutíveis. Até que perdeu a segundo Copa e começou, imediatamente após a derrota para a Croácia ser criticado por Galvão Bueno, até então a Voz Oficial do Futebol Brasileiro.

Agora, não há mais Galvão, mas outras vozes se unem em louvor a Diniz, o Salvador. Antes da estreia contra a Bolívia, uma crônica foi dedicada a ele. E, mal começou o jogo, já se ouvia que "os ensinamentos de Diniz estão sendo muito bem assimilados em pouco tempo". O interessante é que, no jogo contra o Peru, o que se ouvia era: "é preciso de tempo para que os ensinamentos de Fernando Diniz sejam assimilados".

Só faltaram dizer que a goleada contra a Bolívia foi a redenção do futebol brasileiro. Os 5 x 1 foram a senha para que Carlo Ancelotti, que será o próximo treinador - Diniz está apenas guardando lugar para ele - fosse tratado como dispensável. Para que? Diniz é o cara. E aí, já não falamos apenas da Globo. A pressa, travestida em ufanismo grassa em todos os meios.

A Bolívia é muito fraca, como sempre. Seu artilheiro ainda é Marcelo Moreno, aquele que fez sucesso no Brasil, mas que está com 36 anos. A Bolívia é forte na altitude, apenas. Será. Esta Bolívia parece que não. A Argentina a derrotou por 3 x 0 em La Paz. E com muito menos dificuldade que o Brasil no primeiro tempo. No segundo, descansou.

E veio o jogo contra o Peru, em LIma. O Brasil dominou, teve dois gols anulados - justamente - e só venceu com o gol de Marquinhos no último minuto de jogo. Jogou mal? Não, é claro. Mas não se viu nada de dinizismo, nada de revolucionário, como se promete - de força açodada - a cada jogo. E, lembremos: se o artilheiro boliviano é Moreno, com 36 anos, o peruano é Guerrero, com 39. Um Guerrero caricato, reclamando de faltas a todo momento. Mais parece o Deyverson.

O segundo gol anulado do Brasil passou pela análise do VAR. Com as linhas traçadas, ficou claro que havia impedimento. Não existe pouco ou muito impedimento. É impedimento. E a transmissão, com Luiz Carlos Jr, Ricardinho e Paulo Nunes não conseguia dizer o óbvio: está impedido. "Está ajustado, parece um pouquinho à fente, vamos esperar", uma gradação que lembra a história do gato que subiu no telhado. 

O que custa dizer o que todos estão vendo? É proteção ao dinizismo.

Tite brilhou em Eliminatórias, teve aproveitamentos estratosféricos e, na Copa, nas Copas, foi um fracasso. Por isso, é bom ter os pés no chão e vibrar com o dinizismo apenas quando - e se houver - vitórias convincentes contra Argentina e Uruguai.