Roberto Carlos, o Rei conservador, nunca apoiou a esquerda. Foi conivente e próximo ao poder durante a ditadura militar.
Minha mãe tem a idade de Roberto Carlos e o idolatra. Eu a acompanhei em alguns shows do Rei. É um show magnífico. Uma orquestra estupenda acompanha o cantor e, ao final, ele joga rosas para a plateia de fãs. Roberto, geralmente, beija cada rosa antes de fazer o gesto.
Nesta semana, este ato clássico de Roberto Carlos foi feito com a animação de quem atira bosta ao vento. Roberto não deu um sorriso. E antes disso, ele teve de parar de cantar em pleno show e soltar um "Cala boca, porra!", porque o barulho da “platuleia” grosseira, ruidosa, mal-educada era imenso.
Esta semana também a Vila Belmiro foi palco de invasão, bombas, sinalizadores e um torcedor mais agressivo do Santos deu uma voadora no goleiro Cássio, do Corinthians.
Nesta semana também assistimos horrorizados à chacina praticada por um PM bolsonarista contra toda sua família, não poupou a própria mãe, a esposa e os filhos e antes ainda matou três pessoas a esmo.
Esta semana também descobrimos como o ex-deputado do MBL, aquele que foi para Ucrânia e em áudio vazado disse com todas as letras que as ucranianas são fáceis por serem pobres e foi cassado por estimular o turismo sexual, forjou provas de uma falsa acusação de pedofilia para atacar Padre Julio Lancellotti. O mau caratismo desta gente não tem limites.
Ontem, o deputado rasgador de placas da Marielle com bando armado agrediu uma manifestação pró-Freixo no Rio. Homens bombados, ao lado do barrigudo, xingavam e empurravam quem os gravava e os confrontava sobre a violência bolsonarista praticada contra uma manifestação pacífica da esquerda Lula-Freixo.
No domingo passado foi a vez de um agente penal bolsonarista invadir a festa de aniversário do petista Marcelo Arruda e assassinar a sangue frio o aniversariante. O bolsonarista atirou a esmo numa festa familiar com crianças de colo e pela coragem de Marcelo, que mesmo ferido atirou no atirador, uma chacina foi evitada.
Na semana anterior um anestesista provocou asco em parcela civilizada do país, porque outra parcela correu para criar página de fãs do estuprador no Instagram. O anestesista estuprou uma grávida durante o parto. É tão repugnante imaginar que nem na hora do parto e anestesiada as mulheres estão protegidas da misoginia, potencializada nestes tempos fascistas.
Uma questão matemática
Este show de horrores que não nos dá um único momento de paz tem cor, raça, etnia, gênero, classe e ideologia.
A classe média inculta, aquela que dava show em posto de gasolina quando o litro não passava de 3 reais e hoje se cala, aquela que odiava ver pobre em aeroportos e hoje quer serviço de bordo em busão, aquela que ia para Europa e para Disney e hoje não consegue nem ir para as nossas maravilhosas praias do Nordeste sempre reforçou o estereótipo que o "povo brasileiro" é sujo, feio e malvado. Curiosamente, ao reproduzir seu complexo de vira-latas, ela não fazia parte do "povo brasileiro" e, hoje, ostenta com orgulho uma bandeira nacional esvaziada de significado nacionalista.
Essa classe média inculta, com complexo de vira-latas, conservadora e, atualmente, sem vergonha de abraçar abertamente o fascismo sempre teve vergonha do Brasil e do "povo” brasileiro.
Comecei a fazer contas: quanto é um salário mínimo desvalorizado ao longo do governo destrutivo de Voldemort, como diria Anitta? O salário mínimo hoje é R$ 1.212,00.
Quanto custa um show de Roberto Carlos, especialmente, depois de dois anos de isolamento social? No Rio, o ingresso mais barato para assistir Roberto Carlos custa R$ 632,00.
Quanto custa a formação de um médico anestesista? Na Unifoa onde se formou o médico estuprador, a mensalidade custa R$ 8.985,00 em um curso com seis anos de duração.
Um deputado estadual ganha R$ 25.322,25, fora os subsídios, recursos de gabinete.
Pobre, preto, periférico não tem 632 reais para ir num show de Roberto, 150 para assistir uma partida no estádio, não tem 646.920,00 para se tornar um médico anestesista, não tem rendimento anual de 329.189,25 como os deputados estaduais.
Quem são os violentos no Brasil? A resposta está na matemática. E, certamente, não é a maioria da classe trabalhadora que forma o povo brasileiro. Esta teria todas as justificativas para ser violenta, mas vem trabalhando sem direitos, em trabalhos precarizados para fazer menos de três refeições por dia, sem energia para irritar o Rei.