DONO DA REDE

Elon Musk, alinhado ao extremismo de direita, não sabe o que é soberania

Postura do bilionário diz respeito à ideologia, mas também se relaciona a oportunidades de negócio

Créditos: Reprodução/ Frame/ DW
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Na noite desta quinta-feira (29), venceu o prazo dado pelo ministro Alexandre de Moraes para que o X, ex-Twitter, indicasse um representante legal no Brasil. A plataforma, por meio de seu perfil, disse que não iria cumprir esta e outras determinações, afirmando que esperava a suspensão por parte da Corte.

Durante o dia, Elon Musk publicou uma série de postagens em sua rede social desafiando e ofendendo Moraes, citando até o mesmo o presidente Lula, como se não houvesse independência dos Poderes no Brasil. Não é a primeira vez, aliás, que o bilionário faz essa associação. Como também não é inédita a sequência de desaforos proferida contra o ministro do Supremo.

Em 6 de abril, Musk foi ao ex-Twitter dizer que não cumpriria decisões judiciais relativas ao bloqueio de perfis suspeitos de participarem de iniciativas golpistas. No dia seguinte, foi incluído no inquérito que investiga as milícias digitais. 

Também no início daquele mês, houve a publicação do chamado Twitter Files, conjunto de e-mails trocados por funcionários do Twitter (atual X) sobre decisões judiciais brasileiras entre 2020 a 2022. Até uma ação do GAECO do Ministério Público de SP foi incluída no rol como se fosse determinação de Moraes. A advogada Estela Aranha desmontou a farsa à época.

Não importava a verdade. Como bem sabe o bilionário dono da plataforma, esta perde feio para a velocidade das redes sociais e para a dissonância cognitiva de extremista de direita. A narrativa de perseguição e afronta à liberdade de expressão estava montada, ainda que sem base alguma. 

Estranhas coincidências

Àquela altura, estes dias antecediam uma manifestação bolsonarista, marcada para 21 de abril. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que não podia atacar frontalmente Alexandre de Moraes, aproveitou a voz do dono da plataforma para promover seu enfrentamento pouco velado.

Em seu discurso disse que Musk era um “mito da liberdade” e pediu uma salva de palmas ao bilionário a uma multidão que tinha sido "aquecida" dias antes. “O que eles querem é a ditadura, com o controle social da mídia. Acusam agora o homem mais rico do mundo, que é dono de uma plataforma cujo objetivo é fazer com que o mundo todo seja livre, que é o X, o nosso antigo Twitter. É um homem que preserva a liberdade para todos nós, que teve coragem de mostrar com todas as provas para onde nossa democracia estava indo”, disse então Bolsonaro.

Agora, novamente a dias de uma nova manifestação bolsonarista, marcada para 7 de setembro, Musk repete a mesma estratégia de confrontar Moraes, o STF e as leis brasileiras, buscando mobilizar os extremistas para mais um ato público.

Extremismo e negócios

Em julho, foi anunciado que o bilionário daria US$ 45 milhões por mês para a campanha do republicano Donald Trump à presidência dos EUA. Mais tarde, ele receberia o candidato em uma transmissão pelo X, em uma entrevista que foi mais uma conversa com afagos e trocas de elogios.

No Brasil, por meio de Jair Bolsonaro, Musk conseguiu trazer a Starlink, hoje a segunda maior empresa do setor de banda larga via satélite mais acessada no Brasil, com 37,6% do total de assinantes da modalidade, que promete acesso à internet de alta velocidade em locais remotos do país.

Equipamentos da Starlink, aliás, conseguiram facilitar a vida do crime organizado em garimpos ilegais, como os localizados na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. Entre março e julho deste ano, o governo federal havia apreendido 50 antenas em poder dos garimpeiros.

Musk também foi entusiasta do presidente Javier Milei, da Argentina. Após o encontro com o extremista, recomendou que empresários investissem no país. Na troca de gentilezas, Milei ofereceu "ajuda" ao bilionário no confronto que travava em abril contra o STF.

Existe hoje um alinhamento explícito do dono do Twitter à extrema direita internacional. Isso, além de suas postagens despropositadas, tem gerado prejuízos ao bilionário. Anunciantes se afastaram da plataforma e a compra da plataforma foi considerada o pior negócio para bancos desde a crise de 2008. Ainda assim, é um prejuízo que pode ser considerado fácil de assimilar para quem detém uma rede com poder de amplificar a própria voz, além de permitir a ele que paute o que lhe interessa.

A postura de Musk é ideológica, mas não só. "Musk não apenas usa a plataforma X para apoiar esses líderes, mas também busca vantagens corporativas significativas. Na Argentina, por exemplo, ele tem interesse direto nas reservas de lítio, um componente essencial para as baterias de seus carros elétricos fabricados pela Tesla. No Brasil, Musk tem interesse na expansão da Starlink, a plataforma de Internet via satélite da SpaceX", aponta, em artigo publicado em maio, a professora da FGV Direito Rio Yasmin Curzi de Mendonça.

O extremismo ilustra o pensamento e o comportamento do bilionário, mas também mostra que isso, para ele, é e sempre será um negócio. Inclusive o ataque à soberania de países, como Brasil.