V Semana Tereza de Benguela passará pelas 9 cidades da Baixada Santista
O tema da edição de 2025 é “Rumo aos 10 anos da Marcha das Mulheres Negras: desafios da luta por reparação e bem viver para todes nós”
No dia 25 de julho é celebrado em todo o continente o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data foi criada durante o Primeiro Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, realizado em 1992, na cidade de Santo Domingo, capital da República Dominicana. No Brasil, a data tem um nome próprio após a aprovação da Lei 12.987/2014: Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Ícone da luta contra a escravidão no Brasil colonial, Tereza de Benguela liderou o principal quilombo localizado na então Capitania de Mato Grosso, por duas décadas, contra as investidas da Coroa Portuguesa.
No litoral paulista, como acontece tradicionalmente, será realizada a Semana Tereza de Benguela, em sua quinta edição, entre os dias 24 de julho e 3 de agosto.
A principal novidade este ano é que a Semana vai passar por todas as 9 cidades da Baixada Santista, com 11 atividades. Relação dos municípios que celebrarão a data: Santos, Guarujá, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, São Vicente, Bertioga, Cubatão, Praia Grande, além da Marcha das Mulheres Negras, em São Paulo. As inscrições serão abertas em breve.
“Essa construção coletiva é feita por mulheres negras da região e convida toda a comunidade a refletir, celebrar e lutar por justiça, memória e dignidade. Contra todo tipo de apropriação do legado e das construções do povo negro”, destacou a organização do evento.

Vida e luta de Tereza de Benguela
De acordo com artigo publicado pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o local de nascimento de Tereza de Banguela é desconhecido. Supõe-se que ela tenha nascido em algum lugar no continente africano, ou no próprio Brasil, onde sua história se desenrolou.
Tereza viveu no século XVIII, época onde a resistência à escravização fazia com que muitos negros, trazidos pelo odioso tráfico humano que formou nossa sociedade, se organizassem para escapar das fazendas e refugiarem-se nos sertões do Brasil, dentro de comunidades conhecidas como quilombos. E, assim como nas ocupações de terras e por moradia da atualidade, as autoridades constituídas perseguiam os fugitivos.
Tereza foi casada com José Piolho, principal líder do Quilombo Quaritetê, localizado onde hoje o estado do Mato Grosso faz fronteira com a Bolívia, no Vale do Guaporé. Era o maior quilombo da região e abrigava mais de 100 pessoas, entre negros e indígenas. Quando o marido foi morto por soldados da colonização portuguesa, Tereza assumiu o trono do Quaritetê e, durante mais de duas décadas, liderou a resistência da comunidade contra a escravização.
Nesse período, a Rainha Tereza costumava navegar em barcos imponentes pelos rios do Pantanal. Mas seus principais feitos foram organizar a defesa da comunidade que estava localizada em uma área de difícil acesso, com armas que roubavam de vilas próximas ou mesmo que trocavam com brancos, além de articular um tipo de parlamento que tomava as decisões comunitárias.
A economia do Quaritetê funcionava à base do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana – e da venda dos seus excedentes, especialmente para a obtenção das armas.
Segundo informações da UFRB, o Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelos homens comandados por Luís Pinto de Sousa Coutinho, bandeirante a serviço da Capitania do Mato Grosso. Já sobre a morte da Rainha Tereza, não há registros. Uma versão dá conta de que teria se suicidado após sua captura pelos bandeirantes, enquanto uma segunda versão aponta que teria sido executada e tido a cabeça exposta no centro do Quilombo.
Além do dia instituído, a Rainha Tereza recebeu diversas outras homenagens póstumas. Entre as mais destacadas está o samba enredo “Tereza de Benguela: uma rainha negra no Pantanal”, cantado pela Viradouro no Carnaval de 1994.
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