FOLHA SANTISTA

São Vicente: Professor é exposto em ataque de secretário e prefeito – Por Danilo Tavares

Enquanto mobilizam redes para atacar professor, seguem sem explicações temas muito mais relevantes à população

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São Vicente: Professor é exposto em ataque de secretário e prefeito – Por Danilo Tavares
Imagem Ilustrativa. Divulgação/Prefeitura de SV

Nesta semana, a cidade de São Vicente (SP) assistiu a uma cena lamentável que expõe uma grave distorção no uso das estruturas de poder público: o professor da rede municipal Antonio Bravini foi publicamente atacado pelo secretário executivo da prefeitura, Mario Tito, com apoio direto do prefeito Kayo Amado, em uma ação que escancara o risco de abuso de posição pública institucionalizada.

Tudo começou com um vídeo de teor informal, publicado pelo professor em suas redes pessoais, onde mencionava – com evidente tom especulativo e descontraído – que o próximo secretário de educação poderia ser do “grupo de Mario Tito”, utilizando a expressão política “raposa velha”. O conteúdo teve baixo alcance, nenhum tom afirmativo e claramente não se tratava de uma denúncia ou notícia oficial.

A reação, no entanto, foi desproporcional, agressiva e coordenada. O secretário Mario Tito publicou um vídeo de react com a imagem do professor em destaque, marcada com o rótulo de “Fake News”, e complementou com frases como “tem gente que gosta de gargantar mentira”. O prefeito Kayo Amado, por sua vez, colaborou diretamente com a publicação, comentou em tom de deboche e incentivou a difamação pública de um servidor municipal.

O que era para ser resolvido com uma nota de esclarecimento ou um gesto de diálogo virou um espetáculo de intimidação e desmoralização pública contra um profissional da educação.

Quando o poder vira escudo para humilhar

O que se questiona aqui não é a liberdade de resposta — esta é legítima e constitucional. O problema é o uso da estrutura institucional e da popularidade digital de altos cargos públicos para destruir reputações de quem está em posição inferior, especialmente quando não houve dolo, nem circulação massiva de desinformação.

Bravini reconheceu publicamente seu equívoco. O vídeo não tinha finalidade jornalística nem institucional. Foi um comentário subjetivo, em tom de bastidor. Chamar isso de fake news é banalizar o conceito e usar o rótulo como arma política.

O silêncio que incomoda

Enquanto mobilizam redes para atacar professor, seguem sem explicações temas muito mais relevantes à população, como:

-Cadê os uniformes escolares que ainda não foram entregues?

-E os R$ 38.895.831,99 do contrato com o CONSÓRCIO ESCOLA DO FUTURO, destinados às reformas das escolas Antônio Pacífico, José Meirelles e Laura Filgueiras, que seguem inacabadas?

-A prefeitura de São Vicente gastou mais de R$ 5 milhões com combustíveis só em 2024. Foram 420 mil litros de gasolina e mais 420 mil de diesel. Isso tudo daria pra uma frota dar várias voltas ao mundo;

-A atual crise financeira do governo Kayo Amado.

Essas perguntas continuam sem resposta. E enquanto isso, o governo segue voando igual barata tonta: ataca servidor por uma fala sem dolo, mas foge das cobranças que realmente importam à população.

O medo como ferramenta de governo

A situação de Antonio Bravini é simbólica e perigosa. Ela indica que qualquer servidor, professor ou cidadão que se expresse fora do tom institucional pode ser alvo de retaliação pública, com imagem exposta, reputação atacada e insinuações desmoralizantes.

Não se trata apenas de um ataque pessoal. Trata-se de um recado à cidade: “quem nos criticar, sofrerá as consequências”.

E isso, na essência, se chama covardia institucional.

*Danilo Tavares (@danilotavaressol) é produtor cultural, funcionário público municipal e secretário de comunicação do PSOL de São Vicente, além de membro do Conselho de Economia Solidária de São Vicente e do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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