Em Portugal, comitiva busca reconhecimento da Rota do Café como patrimônio mundial
Especialistas em patrimônio cultural apresentam amplo inventário sobre a importância histórica, cultural e econômica do circuito cafeeiro paulista
Um projeto audacioso de valorização patrimonial do Brasil. Assim pode ser resumida a iniciativa de um grupo de profissionais especializados em patrimônio cultural, autoridades governamentais e pesquisadores, que assumiu uma missão importante.
A comitiva paulista participará, de 22 a 24 de maio, do Fórum Internacional do Patrimônio Cultural Brasil-Portugal, que será realizado na Universidade de Aveiro, no país europeu.
O objetivo é buscar o reconhecimento da tradicional Rota do Café do Estado de São Paulo como patrimônio mundial.
O evento servirá como cenário para a apresentação da proposta, fundamentada em um amplo inventário que destaca a importância histórica, cultural e econômica do circuito cafeeiro paulista.
A exposição brasileira será realizada em um painel dentro do Fórum. Na oportunidade, o grupo fará sua apresentação com base no artigo intitulado “A Rota do Café no Estado de São Paulo: Paisagem Cultural e Patrimônio Histórico”, escrito pelo historiador e antropólogo Danilo Nunes, em parceria com a professora e arquiteta PhD Maria Rita Amoroso e com o advogado Fabio Picarelli.
A delegação será liderada por Maria Rita, coordenadora-geral do Fórum Internacional do Patrimônio Cultural Brasil-Portugal, e por Danilo Nunes, atual superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em São Paulo.
O grupo ainda inclui o subprefeito da Vila de Paranapiacaba, Fábio Picarelli, além de representantes das prefeituras de Santos e de Campinas.
A tarefa do grupo é consolidar o reconhecimento internacional da Rota do Café, com foco em três pontos estratégicos fundamentais: as fazendas históricas de Campinas, a Vila de Paranapiacaba e a Estação do Valongo, em Santos.
Testemunho vivo da história
Na avaliação do grupo, a ideia de paisagem cultural desempenha um papel crucial na defesa do reconhecimento da Rota do Café como Patrimônio da Humanidade. A conexão entre o território e a cultura do café, que resultou em infraestrutura ferroviária, crescimento urbano e redes de interação, dá à candidatura singularidade.
“O café não só impulsionou a economia do Brasil, mas também moldou uma paisagem cultural que ainda hoje conserva traços marcantes do século XIX e início do XX. Nosso objetivo é evidenciar ao mundo que essa rota narra uma história mundial, ligando o Brasil à Europa e ao comércio global”, comentou Danilo Nunes.
O patrimônio edificado da Rota do Café
Os bens históricos e arquitetônicos da Rota do Café demonstram a importância e a complexidade da cadeia produtiva do café. Em Campinas, fazendas históricas conservam casas amplas, terreiros e tulhas (locais onde eram guardados cereais), que ainda mantêm viva a lembrança dos tempos do ciclo do café.
A Vila de Paranapiacaba, por sua vez, edificada pela São Paulo Railway para ligar a produção de café ao Porto de Santos, preserva paisagem ferroviária e urbanismo único, evidenciando a influência britânica no Brasil.
“Paranapiacaba é um caso raro de vila operária ferroviária que se manteve praticamente inalterada ao longo dos anos, sendo um dos principais elos na exportação de café”, destacou Fabio Picarelli.
Na cidade de Santos, a Estação do Valongo representa a conclusão do percurso histórico. O local, que foi responsável pela movimentação de milhões de sacas de café para os mercados globais, atualmente é um dos principais pontos de revitalização do patrimônio portuário da cidade.


Memórias e tradições da cultura cafeeira
Ainda conforme os integrantes da delegação paulista, a cultura do café vai além dos bens materiais, se manifestando em práticas, conhecimentos e celebrações que atravessam gerações. Ritos de plantio, disseminação de saberes sobre o processamento dos grãos e comemorações relacionadas à colheita formam um conjunto imaterial que intensifica a identidade cultural do café de São Paulo.
“A expressão oral dos antigos operários, a culinária baseada no café, as celebrações locais e o estilo de vida das comunidades vinculadas a essa tradição são elementos cruciais para entendermos a relevância deste patrimônio”, ressaltou Danilo.


Reconhecimento mundial
A proposta da Rota do Café para se tornar um Patrimônio Mundial se alinha à tendência global de valorização das paisagens culturais ligadas a técnicas tradicionais de produção.
Portanto, a abordagem da delegação brasileira no Fórum Internacional do Patrimônio Cultural Brasil-Portugal será destacar a Rota do Café como um legado que ultrapassa limites geográficos e cuja importância é percebida não somente no Brasil, mas também em um panorama histórico e econômico global.
“Ter a Rota do Café reconhecida como Patrimônio Mundial é uma ação crucial para a valorização e conservação dessa herança, além de possibilitar a implementação de políticas públicas que promovam o turismo cultural e a sustentabilidade nas áreas afetadas”, acrescentou Danilo.
De acordo com o grupo, a esperança é que as discussões e as conexões feitas ao longo do Fórum reforcem ainda mais o dossiê da candidatura, aproximando o Brasil de um significativo reconhecimento internacional. O café desempenhou um papel fundamental na transformação de paisagens, cidades e sociedades. “Agora, está próximo, finalmente, de obter o lugar que merece entre os patrimônios mais preciosos da humanidade”.
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