Cubatão em alerta - Por Mário Maurici de Lima Morais

A cidade está novamente ameaçada. Desta vez, pela construção de um pátio de caminhões na área de preservação ambiental chamada de “Ilha do Tatu”

Ilha do Tatu, em Cubatão.Créditos: Google Maps
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Cubatão pede socorro. Após superar o estigma de cidade mais poluída do mundo, nos anos 1980, para se tornar referência em recuperação sustentável, Cubatão está novamente ameaçada. Desta vez, pela construção de um pátio de caminhões na área de preservação ambiental chamada de “Ilha do Tatu”.

A iniciativa é cheia de problemas. Tudo começou em 2022, quando foi ampliada a área do Porto de Santos, com o “confisco” da Ilha do Tatu. Dois anos depois, a Autoridade Portuária anunciou a construção de um pátio de caminhões, chamado de “condomínio logístico”, com 600 vagas e 412 mil metros quadrados.

A obra levará à substituição da vegetação nativa por concreto, promovendo devastação da fauna e da flora. Também poderá agravar os atuais problemas de alagamento, especialmente na Ilha Caraguatá, pois os bairros próximos já carecem de infraestrutura adequada de drenagem.

As pessoas que vivem próximas à Ilha do Tatu serão certamente impactadas. O tráfego de veículos pesados se intensificará, com a provável geração de congestionamentos e poluição sonora e do ar. Espera-se desvalorização dos imóveis e aumento da insegurança, como costuma ocorrer nas zonas que circundam complexos logísticos dessa magnitude.

Não há como evitar temores de que economia da cidade seja afetada negativamente, já que o turismo náutico e a pesca artesanal precisam do ecossistema preservado para seguirem vigorosos. São atividades tradicionais que compõem a identidade local e representam importante fonte de renda para muitas famílias.

Moradoras e moradores da cidade, entidades de defesa de direitos, coletivos e associações comunitárias, parlamentares, Prefeitura e Câmara municipais, além do Ministério Público do Estado de São Paulo, já se posicionaram contra o projeto. 

Mas o presidente da Autoridade Portuária de Santos alega não ser preciso fazer “qualquer consulta preliminar” à população, já que se trata de “área do Porto de Santos”. Como assim quem vive em Cubatão não tem direito a opinar?

Entre outros pontos, a população indicou novas áreas para o pátio, seja em Cubatão, seja nas cidades do entorno. Por essa razão, será realizada na Câmara dos Vereadores, nesta segunda-feira (24), audiência pública sobre o projeto, com participação da Frente Parlamentar em Defesa do Meio Ambiente da Baixada Santista da Assembleia Legislativa.

Depois de estigmatizada como sinônimo de poluição há 4 décadas e ter superado essa condição, tornando-se uma referência de sucesso e recebendo da ONU o título de “Cidade Símbolo da Recuperação Ambiental”, Cubatão pede nossa ajuda para evitar a tragédia que será a construção do pátio numa área de proteção ambiental.

No ano em que o Brasil irá sediar a conferência climática mundial, a COP-30, é preciso que o pátio de caminhões seja construído em outro local. Afinal, já passou da hora de entender que a preservação ambiental é condição para o desenvolvimento. Proteger Cubatão, seus moradores e suas potencialidades ambientais é, cada dia mais, um dever de quem ama a cidade e quer construir o Brasil do futuro.

*Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp.  Atualmente, é deputado estadual em São Paulo.

**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

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