Diante da crise causada pelo calor extremo nas escolas, o vereador Fernando Paulino, do grupo político do prefeito de São Vicente, encontrou uma forma conveniente de desviar o foco da verdadeira responsabilidade: acusar os próprios servidores públicos por sabotagem. Sim, para ele, ventiladores quebrados, falta de água e salas insuportáveis não são resultado da negligência do governo, mas sim de um plano misterioso para sabotar a educação pública. Difícil saber o que é mais chocante: a falta de provas ou o cinismo dessa acusação.
Enquanto Paulino busca inimigos imaginários, a realidade dentro das escolas é assustadora. Segundo o UOL, crianças voltam para casa exaustas e professoras ensopadas de suor, tentando dar aula em salas sufocantes. O jornal A Tribuna revelou casos ainda mais graves: alunos passaram mal e chegaram a vomitar e desmaiar em dia de calor de 35ºC. Mas, claro, na visão do vereador, isso não passa de mais uma "sabotagem" e não uma emergência de saúde pública que exige ação imediata.
Paulino ouviu o governo, mas ignorou quem realmente sofre
O vereador diz que foi até a Secretaria de Educação (SEDUC) para entender o problema. Mas a quem ele ouviu? O governo. E quem ele não ouviu? Os professores, os alunos, os pais e os funcionários da escola.
Ele não entrou em uma sala de aula abafada para sentir na pele o que os estudantes enfrentam. Ele não perguntou aos professores como é passar o dia dando aula com roupas encharcadas de suor, nem com os setores administrativos das escolas. Ele não conversou com as mães que relataram que seus filhos chegam em casa sem energia, depois de um dia sofrendo dentro de um prédio sem ventilação adequada. Falar só com o governo é fácil. Encarar a realidade exige coragem.
Se o problema fosse apenas um ou outro ventilador desligado, como ele sugere, por que tantas escolas relatam a mesma situação crítica? Por que há relatos de estudantes passando mal e desmaiando em diferentes unidades? Será mesmo que diversos professores e funcionários decidiram sabotar suas próprias condições de trabalho? Ou será que o governo simplesmente falhou em garantir que as escolas estivessem preparadas para enfrentar o calor extremo?
O desafio está lançado: chame a população para falar, vereador!
Fernando Paulino, se você tem tanta certeza de que o problema não é a incompetência da gestão municipal, então proponha uma audiência pública. Dê voz aos pais que estão vendo seus filhos sofrerem. Convide os professores e funcionários das escolas para relatarem suas condições de trabalho. Ouça os próprios alunos sobre como é tentar aprender enquanto enfrentam temperaturas insuportáveis dentro da sala de aula.
Ou será que o senhor prefere continuar no ar-condicionado do seu gabinete, criando teorias da conspiração, enquanto crianças e professores suam, desmaiam e vomitam dentro das escolas?
A população está esperando a resposta.
Vicentinos, assinem o abaixo-assinado para realização de Audiência Pública na Câmara de vereadores para que a população e servidores públicos possam falar sobre o caos na educação.
*Danilo Tavares (@danilotavaressol) é produtor cultural, funcionário público municipal e secretário de comunicação do PSOL de São Vicente, além de membro do Conselho de Economia Solidária de São Vicente e do Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista e diretor da Casa Crescer e Brilhar.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.