Cubatão Sob Ameaça: o custo oculto do Pátio de Caminhões da Autoridade Portuária de Santos

Empreendimento planejado para ser instalado em uma área de mangue equivalente a 50 campos de futebol vai comprometer significativa Área de Preservação Permanente (APP)

Ilha Tatu.Créditos: Google Maps
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Escrito en SP el

Por Paula Ravanelli*

A cidade de Cubatão, conhecida por sua rica biodiversidade e luta histórica pela recuperação ambiental, enfrenta mais uma ameaça ao seu equilíbrio ecológico e à qualidade de vida de seus moradores. O recente anúncio da construção de um Pátio de Caminhões e Condomínio Logístico pela Autoridade Portuária de Santos na Ilha Tatu despertou preocupações legítimas do Governo Municipal e forte resistência entre ambientalistas e a população local.

O empreendimento, planejado para ser instalado em uma área de mangue equivalente a 50 campos de futebol, comprometerá uma significativa Área de Preservação Permanente (APP). A substituição da vegetação nativa por concreto não apenas devastará a fauna e flora locais, mas também agravará os já recorrentes problemas de alagamento nos bairros adjacentes, como a Ilha Caraguatá. Essa região, que já sofre com a falta de infraestrutura adequada de drenagem, corre o risco de ver sua situação hídrica e ambiental se deteriorar ainda mais.

Além disso, a iniciativa ignora os impactos econômicos e sociais que inevitavelmente recairão sobre os moradores. Entre os principais problemas estão o aumento do tráfego de veículos pesados, com mais congestionamento e poluição; a possível desvalorização dos imóveis da região; e até mesmo a insegurança gerada por atividades ilícitas que tendem a surgir ao redor de grandes complexos logísticos.

Outro ponto de preocupação é o impacto no turismo náutico e na pesca artesanal, que dependem da preservação do ecossistema local. Tais atividades, tradicionais em Cubatão, não apenas fazem parte da identidade da cidade, mas também são uma fonte importante de renda para muitas famílias.

Comunidade se mobiliza

A comunidade local, representada por diversas associações de moradores, Prefeitura e Câmara Municipal de Cubatão, está unida na luta contra esse projeto, enfatizando a necessidade de um diálogo mais amplo e transparente. É imperativo que se priorizem alternativas que conciliem desenvolvimento econômico com sustentabilidade e qualidade de vida.

Cubatão não pode ser reduzida a um quintal para o Porto de Santos. A cidade merece projetos que respeitem seu meio ambiente e sua população, em vez de propostas que tragam benefícios econômicos questionáveis enquanto sacrificam sua riqueza natural e cultural.

A atuação do Ministério Público estadual e federal e a mobilização da sociedade é essencial. É hora de dizer não a este retrocesso e defender um futuro mais justo e sustentável para Cubatão.

*Procuradora Municipal de Cubatão.

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