SAÚDE

Uso popular de material tóxico nos dentes gera debate na Câmara; entenda

Especialistas alertam para riscos invisíveis em procedimentos odontológicos

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Cerca de 8 milhões de brasileiros seguem recebendo restaurações com amálgama de mercúrio, substância tóxica à saúde e ao meio ambiente. O tema foi debatido nesta terça-feira (24) em seminário da Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados.

Mari Polachini, da Aliança Mundial pela Odontologia Livre de Mercúrio, alertou que até as obturações antigas são perigosas. “Se eu for cremada, o mercúrio vai para o ar. Se enterrada, vai para o solo. Meu corpo é um poluente tóxico”, disse. Segundo ela, 4% da população ainda é exposta. “Até quando vamos permitir isso?”, questionou.

O mercúrio é extraído do mineral cinábrio e usado em diversos setores. Na odontologia, o resíduo do amálgama é classificado como perigoso. Na natureza, não se degrada e pode contaminar a água e os peixes. Estima-se que de 270 a 341 toneladas de mercúrio sejam usadas por ano em tratamentos dentários — 10% do consumo global.

A dentista Magda Siqueira destacou que parte desse mercúrio vai parar ilegalmente no garimpo artesanal, considerado a principal fonte global de contaminação. O Brasil é o quinto maior poluidor com mercúrio vindo do garimpo, segundo ela.

O metal atinge o sistema nervoso e outros órgãos. Pode causar tremores, perda de memória, insônia, náuseas, danos renais e hepáticos. A médica sanitarista Cecília Zavariz relatou que entre 2015 e 2020, 160 de 260 trabalhadores da indústria de cloro apresentaram intoxicação crônica por mercúrio.

Martha Faissol, da Academia Internacional de Medicina Oral e Toxicologia, afirmou que não existe nível seguro para exposição: “É mais tóxico que qualquer substância, exceto as radioativas”.

O deputado Nilto Tatto (PT-SP), autor do pedido de debate, defende o projeto de lei que propõe o fim do uso de amálgama em três anos. Ele lembrou que o Brasil assinou a Convenção de Minamata, que prevê a eliminação do mercúrio. Mas, segundo ele, a falta de acesso a alternativas no SUS atrasa o cumprimento da norma.

Desde 2019, a Anvisa proíbe a venda e uso de amálgama não encapsulado, mas o problema persiste. Especialistas cobram ação urgente para evitar mais contaminações e garantir tratamentos seguros à população.

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