No início dos anos 1920, a cena era desoladora nos hospitais que tratavam crianças com diabetes tipo 1. Sem um tratamento eficaz, os pequenos pacientes entravam em coma enquanto os pais assistiam, impotentes, à progressão da doença.
Naquela época, o diagnóstico era praticamente uma sentença de morte. A única medida paliativa era uma dieta extremamente restritiva, com ingestão mínima de carboidratos — algumas prescrições chegavam a apenas 450 calorias por dia, levando pacientes à desnutrição extrema e até mesmo à morte por inanição.
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Das ilhotas de Langerhans à insulina purificada
A história da insulina começou a se desenhar ainda no século XIX. Em 1889, os pesquisadores alemães Oskar Minkowski e Joseph von Mering demonstraram que a remoção do pâncreas em cães levava ao desenvolvimento de sintomas diabéticos. A partir dessa descoberta, cientistas concentraram-se nas chamadas ilhotas de Langerhans, aglomerados de células pancreáticas. Em 1910, Sir Edward Sharpey-Shafer propôs que uma única substância estaria ausente nesses casos, batizando-a de insulina — termo derivado do latim insula, que significa "ilha".
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A revolução de 1921
O grande avanço veio em 1921, quando o jovem cirurgião Frederick Banting e seu assistente Charles Best conseguiram extrair insulina do pâncreas de cães. Mesmo sendo inicialmente um extrato rústico e impuro, a substância conseguiu manter um cão diabético vivo por 70 dias. O sucesso do experimento levou à colaboração com o bioquímico James Collip, que purificou o extrato, e com o professor John Macleod, que coordenava os estudos.
James Collip, bioquímico que purificou o extrato. Imagem: Wikipedia
Em janeiro de 1922, Leonard Thompson, um garoto de 14 anos com diabetes em estágio terminal, tornou-se o primeiro humano a receber insulina purificada. O resultado foi extraordinário: em apenas 24 horas, seus níveis de glicose no sangue caíram significativamente, salvando sua vida. Em poucos meses, a insulina era produzida em larga escala pela farmacêutica Eli Lilly, garantindo acesso em todo o continente norte-americano.
Durante décadas, insulinas extraídas de bovinos e suínos foram amplamente utilizadas, embora causassem reações alérgicas em alguns pacientes. O marco seguinte ocorreu em 1978, quando cientistas conseguiram produzir insulina humana sintética por engenharia genética utilizando bactérias E. coli. A primeira insulina biossintética foi lançada comercialmente em 1982 com o nome de Humulin, pela Eli Lilly.
Frederick Banting. Imagem: Wikipedia
Opções modernas e o futuro do tratamento
Atualmente, pessoas com diabetes têm acesso a diferentes tipos de insulina: de ação ultrarrápida, rápida, intermediária e ultralonga. Com o avanço das tecnologias, surgiram também as canetas aplicadoras e as bombas de infusão contínua. Apesar de ainda não representar uma cura definitiva, a insulina continua sendo um pilar essencial para milhões de pessoas ao redor do mundo. A expectativa é que novas pesquisas tragam soluções cada vez mais eficazes, seguras e personalizadas.
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