Um estudo desenvolvido pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) detectou a presença de metais pesados, como o chumbo, no leite materno de mulheres da capital paulista. A substância pode estar associada ao atraso no desenvolvimento da linguagem de bebês.
Apesar do resultado, os especialistas reforçam que o leite humano continua sendo o melhor alimento para os bebês, mas a contaminação é um alerta sobre os riscos da poluição por diversas atividades humanas.
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A pesquisa, desenvolvida com 185 amostras de leite humano, investigou a presença de metais no alimento e possível relação com problemas no neurodesenvolvimento dos bebês. O resultado mostrou que 30% das amostras estavam contaminadas por arsênio (38,6%), mercúrio (23,9%) e chumbo (22,8%). Os pesquisadores optaram por focar na presença do chumbo e seus impactos para o desenvolvimento.
O chumbo é um metal muito utilizado na indústria siderúrgica, no agronegócio em fertilizantes e emitido por carros e queimadas. Ele contamina solos, reservas de água e ar. Por não desempenhar nenhum processo fisiológico no organismo humano, ele é conhecido amplamente como neurotóxico, devido à sua capacidade de passar pela barreira hematoencefálica, estrutura que regula o transporte de substâncias entre o sistema nervoso central e o sangue.
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A presença do chumbo no leite, no sangue materno ou no sangue do cordão umbilical está relacionada a prejuízos no neurodesenvolvimento de crianças. O estudo mostra que as crianças avaliadas apresentaram competências linguísticas mais baixas.
Nathalia Ferrazzo Naspolini, pós-doutoranda associada ao Laboratório de Microbioma Humano (ICB-II/USP) e uma das responsáveis ??pelo estudo, explica que o chumbo é especialmente prejudicial para os bebês uma vez que eles não têm todos os órgãos e sistemas desenvolvidos, tendo maior capacidade mais absorver os metais pesados.
"Os bebês são particularmente vulneráveis ??à absorção de metais, pois a barreira intestinal é imatura, e a permeabilidade desses elementos pode ser aumentada. A imaturidade de outros órgãos e sistemas também contribui para maior toxicidade durante a infância", mostra o estudo. Os pesquisadores ainda afirmam que o cérebro tem maior probabilidade de ser afetado pelo chumbo.
Naspolini também chamou a atenção para o fato de que a maioria dos voluntários que participou do estudo é de média para alta renda. “Se nessas pessoas encontramos contaminação, em pessoas de baixa renda, que são mais expostas à contaminação ambiental, poderíamos encontrar níveis mais altos”.
Ela citou um estudo desenvolvido pela Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que utilizou amostras de pessoas de baixa renda e encontrou mais de 90% do material contaminado.
Os pesquisadores concluem o estudo enfatizando a necessidade de revisar os níveis atualmente aceitos de metais em amostras humanas, pois mesmo baixas concentrações podem prejudicar populações vulneráveis.
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