A Iambic Therapeutics, empresa de biotecnologia sediada em San Diego, na Califórnia, afirma ter desenvolvido, em projeto conjunto com a Nvidia — multinacional conhecida por suas tecnologias em placas de vídeo e processadores —, uma nova plataforma de Inteligência Artificial "de ponta" para "enfrentar desafios na descoberta de novos medicamentos".
A plataforma, denominada Enchant, é um modelo multimodal feito para fornecer "insights preditivos" acerca das propriedades clínicas de novos medicamentos e compostos em desenvolvimento desde os estágios mais iniciais.
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O componente in silico da plataforma (testes realizados em ambiente computacional ao invés de em laboratório ou diretamente em organismos vivos) seria capaz de prever a viabilidade de moléculas, incluindo suas propriedades farmacocinéticas (que se referem à forma como o corpo interage com os medicamentos).
Mesmo sem testes diretos em organismos vivos — ou em seres humanos —, a IA Enchant poderia processar os efeitos moleculares de cada medicamento potencial a partir de "pequenas quantidades de dados" de base humana, isto é, treinada a partir de descobertas pré-clínicas e dados disponíveis de organismos reais a fim de prever como as drogas agiriam sobre o organismo e, principalmente, como os organismos reagiriam às drogas.
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Descobertas publicadas na terça-feira (29) pela desenvolvedora mostram que, mesmo com um treinamento correspondente a menos de 1% da base de dados humana disponível, a IA demonstrou "previsões significativas", num experimento que utilizou uma base de dados de cinco moléculas diferentes.
Além disso, a capacidade preditiva da Enchant "superou a performance de modelos prévios em estado-da-arte" (isto é, as tecnologias mais modernas disponíveis para essa espécie de análise).
A nova nota de acurácia (capacidade preditiva) do modelo foi estabelecida em 0.74, em comparação com 0.58 de modelos anteriores com a mesma proposta.
Os custos atuais para a produção de um medicamento, de acordo com o co-fundador da Iambic, Fred Manby, ouvido pela Reuters, podem chegar a US$ 2 bilhões, e ainda têm de levar em conta as chances de fracasso.
Por outro lado, utilizar um modelo como a Enchant economizaria quase 50% dos custos com as fases de testes iniciais. E, se cada estágio de desenvolvimento clínico for melhorado em pelo menos 10% com o uso da IA, a redução de custos "seria cumulativa".
Um dos supervisores do projeto que deu origem à Enchant, Frances Arnold, ganhou o Prêmio Nobel de Química em 2018, e afirmou à Reuters que o programa representa um avanço gigante no uso de inteligência artificial para propósitos científicos e na descoberta de novos medicamentos.
Alguns dos desafios endereçados pela Enchant envolvem aspectos como a eficácia de uso dos medicamentos, o risco de tóxicos na composição e a farmacocinética dos indivíduos em contato — o tempo de evolução das drogas no corpo humano, de sua absorção, biodisponibilidade, distribuição, biotransformação e eliminação (excreção).