ALIMENTAÇÃO

Consumo de carne aumenta risco de infecções bacterianas; entenda

De acordo com especialistas, a ingestão de carne pode estar associada a redução da resistência a antibióticos e a novos casos de infecção bacteriana

Diferentes tipos de carne.Créditos: Pixabay
Escrito en SAÚDE el

Já é de conhecimento geral que antibióticos têm um papel central na criação e comercialização de animais para consumo: esses animais recebem diversas doses de tratamento antiviral e antibacteriano ao longo da vida, a fim de melhorar seu desenvolvimento e livrá-los de doenças que podem ser fatais para os seres humanos. 

Mas cientistas já têm alertado há anos sobre os efeitos negativos dessa alta ingestão de antibióticos — porque, quanto mais os animais são tratados com essa espécie de medicamento, maior se torna a resistência dos microrganismos às medicações caso infecções ocorram. 

Além disso, há um outro risco associado ao consumo de carne, a depender da sua procedência e das técnicas de preparo usadas: a introdução de bactérias causadoras de infecções, como é o caso da muito comum infecção do trato urinário.

De acordo com um estudo publicado na National Library of Medicine, doenças relacionadas a infecções no trato urinário tiveram sua incidência aumentada em até 68% de 1990 a 2019. Isso ocorreu, principalmente, devido aos novos mecanismos de resistência das bactérias a antibióticos comuns.

E, apesar de essa espécie de infecção não ser, na maioria dos casos, fatal, sua recorrência (ela já atinge mais de 400 milhões de pessoas por ano) pode significar uma falha cada vez mais acentuada de antibióticos já existentes, além de uma resistência maior por parte das bactérias.

As infecções urinárias costumam ser especialmente problemáticas para pessoas em idade avançada, e são pelo menos 30 vezes mais comuns em mulheres (devido à proximidade biológica entra a uretra e o ânus em corpos femininos).

Portanto, os grupos de maior risco para esse problema são o de mulheres idosas, sexualmente ativas ou imunossuprimidas.

E, quando não tratadas da maneira correta, as infecções urinárias podem ser fatais

"Se não mudarmos como usamos antibióticos, vamos ter cada vez menos opções para tratar infecções de bexiga, rins e uretra", diz a microbiologista Cindy Liu. 

Comer carne com rastros desses tratamentos antibacterianos, além do mais, constitui um risco à saúde humana e pode estar contribuindo com uma maior resistência das bactérias causadoras desse problema uma vez nos organismos humanos, notam cientistas. 

Um estudo da revista Science publicado em 2023 estima que a carne contaminada por antibióticos pode ter causado meio milhão dos casos de infecção urinária por ano nos Estados Unidos. 

Além disso, bactérias presentes na carne, como as E. coli (Escherichia coli, grupo de bactérias intestinais cuja versão patogênica pode contaminar alimentos e ser transmitida pelas vias fecal-oral), representam um risco para infecções como as do trato urinário. 

Isso porque, quando ingeridas, elas podem "colonizar o intestino" e se espalhar para o trato urinário de mulheres a partir da excreção (pela proximidade do ânus com o trato urinário). 

Para evitar os riscos, portanto, é ter em vista alguns cuidados específicos com o manejo de alimentos, como lavar as mãos com frequência, limpar bem os ambientes de preparo dos alimentos e cozinhar completamente as carnes. 

Há também cuidados na hora de comprar esses alimentos: é preciso se atentar à procedência das carnes, aos selos que carregam, e dar preferência a alimentos orgânicos e a criatórios que não utilizem antibióticos de forma abusiva nos animais. O difícil, é claro, é ter acesso a essas informações.