AVANÇO CIENTÍFICO

Novos remédios que retardam progressão do Alzheimer podem ser uma esperança

Medicamentos aprovados este ano ainda estão sendo avaliados por especialistas

Embora promissores, medicamentos podem causar efeitos adversos.Créditos: Mart Production/Pexels
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Duas novas drogas reduziram a progressão do Alzheimer e trouxeram esperança a médicos e pacientes este ano. Embora promissoras, vale lembrar que as terapias possuem efeitos adversos, possui algumas contraindicações e ainda não chegaram no Brasil

Nas últimas semanas, foram observados avanços no tratamento de Alzheimer. No início de julho, foi anunciada a primeira aprovação pela FDA (agência americana de drogas e alimentos) da segunda droga, produzida pela farmacêutica Biogen, para tratamento precoce de Alzheimer, o chamado lecanemab (comercializado pelo nome Leqembi). A taxa de redução da progressão da doença com seu uso ficou em até 27%

A droga donanemabe, desenvolvida pela Eli Lilly, também tem mostrado resultados promissores no tratamento de pacientes com sintomas iniciais de Alzheimer. Em um estudo clínico global, ela ajudou a retardar o declínio cognitivo em cerca de metade (47%) dos pacientes. Em janeiro deste ano, a agência já havia concedido uma aprovação acelerada para a droga, e os resultados surpreendentes anunciados pela Eli Lilly no dia 17 deste mês, reforçam ainda mais o potencial da droga para ajudar aqueles que sofrem com a doença.

Aqueles que já tinham algum declínio cognitivo tiveram redução da evolução de perda cognitiva  em até 60% com o medicamento. Ao mesmo tempo, é preciso que haja uma certa cautela, apesar dos resultados animadores. Além de serem medicamentos caros, ambos não foram aprovados em muitos países e são mais indicados para pacientes nas fases iniciais da doença com diagnóstico por imagem. 

Lecanemab

Os estudos mostraram que a droga foi capaz de reduzir a progressão da doença em 27% em participantes com idades entre 50 e 90 anos que receberam injeções quinzenais. No entanto, ainda existem vários pontos que devem ser avaliados antes do uso do medicamento: o primeiro é que foram observados certos efeitos adversos graves, como edemas (inchaço) e hemorragias cerebrais nos pacientes que participaram da pesquisa. 

De acordo com a professora de geriatria da USP, Claudia Suemoto, o lecanemab é indicado para pacientes em fase inicial da doença, com verificação de acúmulo de placas de beta amilóide por meio de exame de PET-amiloide. No entanto, esse exame não é acessível (e nem indicado) para todos. 

Donanemabe

Por outro lado, o donanemabe, desenvolvido pela Eli Lilly, conseguiu remover o acúmulo dessas placas independentemente do estágio da doença, diminuindo assim a perda cognitiva. Apesar de ambos os medicamentos terem se mostrado eficazes na remoção do acúmulo de amilóide no cérebro, ainda não se sabe ao certo quais são os benefícios para a qualidade de vida do paciente e o quanto isso representa uma evolução do quadro.

Por essa razão, as terapias ainda não são consideradas uma solução, apesar de promissoras. "Não é a última esperança ou a solução definitiva", afirma o neurologista do Núcleo de Excelência em Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, Ivan Okamoto. Ele reforça que a expectativa em torno dessas novas terapias pode desencadear uma piora no estado emocional de pacientes que ainda não têm acesso a elas. 

Nos últimos anos,avanços em exames de imagem e de sangue têm permitido a identificação precoce de sinais do Alzheimer, mesmo antes do surgimento de sintomas. 

No entanto, há um debate entre especialistas sobre a validade de um diagnóstico precoce da doença. Um quarto (25%) dos pacientes com lesões cerebrais associadas ao Alzheimer ou demência morreram sem apresentar sintomas, e a ansiedade gerada pelo diagnóstico precoce pode prejudicar o tratamento. 

A professora Suemoto, da USP, afirma que os sinais da doença podem levar de 20 a 30 anos para surgir. Um exemplo recente é o do cantor Tony Bennett, que recebeu o diagnóstico de Alzheimer em 2016, mas continuou ativo e cantando até sua morte em 2021, aos 96 anos.

*Com informações de Folha de São Paulo

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