A pandemia de Covid-19 teve cerca de 37,7 milhões de casos confirmados e 704,5 mil óbitos, apontam dados do painel Coronavírus Brasil, do governo federal. A propagação por vias aéreas e contato facilitou o contágio rápido na população do mundo inteiro. Porém, embora a grande maioria dos infectados tenha tido sintomas comuns ou mais graves, uma parcela se mostrou assintomático – possivelmente devido à uma mutação genética.
Cerca de 20% das pessoas contaminadas com o coronavírus nunca tiveram sintomas, mostra estudo Um alelo comum de HLA é associado com infecção assintomática de SARS-CoV-2, publicado na revista científica Nature. Os pesquisadores envolvidos identificaram uma mutação genética ligada à maior probabilidade da inibição de sintomas durante a infecção.
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De acordo com o estudo, a mutação pode dar vantagens às células imunes, os leucócitos, de pessoas que estiveram expostas à outros patógenos de gripes comuns. Essa alteração genética permite que o sistema imunológico tenha mais sucesso na destruição do vírus da Covid com rapidez, como explica o imunogeneticista da Universidade da Califórnia, Jill Hollenbach, co-autor da pesquisa.
A evidência apresentada pelos cientistas é "mais forte do que qualquer outra associação de um gene comum já publicada", afirma Jean-Laurent Casanova, imunologista na Universidade de Rockfeller, na cidade de Nova Iorque.
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O que diz o estudo?
Apesar de muitos estudos científicos priorizarem os sintomas graves da Covid-19 e suas variantes, os pesquisadores optaram por entender a infecção assintomática, na intenção de encontrar saídas imunológicas e reduzir o número de pessoas com sintomas. Para isso, eles utilizaram informações da genotipagem do sistema HLA (Human Leukocyte Antigen ou Antígeno Leucocitário Humano, em português) de quase 30 mil pessoas.
O complexo de genes HLA está presente no cromossomo 6, que tem função de apresentar evidências de invasores às células imunes de reconhecimento e destruição, as células T. Os genes HLA são os responsáveis na síntese de glicoproteínas de superfície, que são as macromoléculas fundamentais na regulação do sistema imune adaptativo e que sinalizam a presença de bactérias e vírus incomuns. Essa genotipagem é comum em casos de transplante de medula óssea e órgãos sólidos, quando é necessária a comparação entre resultados entre doador e receptor.
Os pesquisadores descobriram uma relação entre uma mutação nos genes HLA e a infecção assintomática em cerca de 10% das pessoas estudadas. Pessoas com a mutação tinham o dobro da probabilidade de permanecer assintomáticas do que pessoas sem, enquanto aquelas com duas cópias do gene tinham oito vezes mais chances de não ter sintomas.
A pesquisa foi conduzida, principalmente, em pessoas que se identificaram como brancas, embora tenham encontrado resultados em pessoas negras. Hispânicos e asiáticos não tiveram resultados sólidos porque o banco de dados não possuía informações suficiente sobre esses grupos, de acordo com os autores.
Imunidade relembrada
O motivo da mutação ter relação com a infeção assintomática é a memória imunológica, diz o estudo. As células T, que antes não haviam sido expostas ao SARS-CoV2 tiveram maior facilidade em destruir o vírus porque relembraram os fragmentos de gripes comuns. Com a mutação, os genes HLA, mais especificamente o HLA-B*15:01 – que estavam mais presentes nos assintomáticos que não haviam recebido a vacina contra a Covid-19 – sinalizavam as evidências do invasor com um formato semelhante ao das gripes comuns, o que permite a resposta rápida das células T.