Quase todos os anos, no verão do hemisfério norte, os noticiários trazem a informação sobre um tipo de contaminação raríssima provocada por um micro-organismo de ação brutal e devastadora: a “ameba comedora de cérebro”, que cientificamente recebe o nome de Naegleria fowleri.
Muito incomum, a infeção pela Naegleria fowleri foi registrada apenas 154 vezes em todo o território dos EUA desde 1962, com uma ocorrência maior na Flórida, que no mesmo período viu 37 pessoas morrerem por conta das complicações causadas pela microscópica ameba unicelular que causa infecção no cérebro. Em alguns outros países, na Ásia sobretudo, também já foram registrados episódios do tipo, quase sempre fatais, já que 97% dos pacientes com a moléstia não sobrevivem.
Desta vez, o caso da “ameba comedora de cérebro” foi feito no estado de Nebrasca, no Meio Oeste dos EUA, onde essa infecção jamais tinha sido registrada. Ela vitimou Easton Scott Gray, um menino de oito anos que, dias antes de apresentar os primeiros sintomas da contaminação, havia nadado no rio Elkhom.
A “ameba comedora de cérebros” sempre contamina suas vítimas em ambiente aquático, nos rios, lagos e até em piscinas que não sejam bem cuidadas, especialmente em águas quentes (de 35°C a 46°C). Ela entra, na maior parte das vezes, pelo nariz do ser humano, o que pode inclusive ocorrer por meio de contato do órgão até mesmo com água encanada não tratada em temperaturas mais elevadas.
Uma vez no corpo, a Naegleria fowleri ataca o sistema nervoso central. A literatura médica mostra que os pacientes apresentam, inicialmente, dores de cabeça, vômitos e outros sintomas neurológicos, como convulsões ou perda significativa de atividade cerebral.
Dias depois, o quadro evolui para um grande edema (acúmulo de líquido) e inflamação encefálica, o que provoca uma severa compressão das estruturas cerebrais dentro da caixa craniana, resultando num estado neurológico crítico. Há casos em que a necropsia encontrou nas vítimas da Naegleria fowleri necroses e hemorragias em áreas do cérebro, o que certamente contribuiu para a sua alcunha de “comedora de cérebros”.
Em tese, esse micro-organismo pode aparecer em qualquer lugar do planeta onde ocorram temperaturas mais elevadas durante algum momento do ano. No entanto, no Brasil, segundo os dados das autoridades federais de saúde, nunca foi registrado um episódio de contaminação pela Naegleria fowleri.
Nos poucos casos em que a vítima não morre em decorrência da infecção, os relatos médicos indicam que esses indivíduos ficam em situação de debilidade extrema, perdendo as capacidades cognitivas e motoras, além da visão e audição, o que resulta num quadro de total dependência de cuidados avançados após o encerramento do ciclo da doença, de forma permanente.